quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

UM CELULAR PARA CADA DOIS PRESOS NO CENTRAL

ZERO HORA 15 de janeiro de 2014 | N° 17674


MAURICIO TONETTO


A LINHA DO CRIME. 
Presídio apreendeu, em média, 6,6 aparelhos por dia em 2013, uma alta de 131% em relação a 2012


Fundamental para o sucesso das organizações criminosas dentro e fora das celas, o telefone celular circula em abundância pelas mãos dos detentos no Presídio Central de Porto Alegre, a maior prisão do Rio Grande do Sul. Somente em 2013, foram recolhidos 2.408 aparelhos – uma média de 6,6 unidades por dia. O número representa uma apreensão a cada dois presos, num crescimento de 131% em comparação com 2012 (1.042).

Perplexas, as autoridades ainda buscam entender as razões desse salto no número de apreensões. Para o juiz da Vara de Execuções Criminais (VEC) Sidinei Brzuska, é difícil estimar o tamanho desse mercado paralelo. Conforme o magistrado, os números representam uma pequena amostragem do total:

– Normalmente, se faz a revista de uma ou duas das 28 galerias por semana. Isso que apresentamos é apenas uma parte do que gira lá dentro. Existe muita coisa em jogo, e a calmaria que vemos no momento deve-se ao fato de que os presos não querem perder o controle dos espaços, por isso não há afronta às regras disciplinares básicas.

Segundo o promotor Gilmar Bortolotto, diretor da Promotoria Especializada de Controle e Execução Criminal de Porto Alegre, os aparelhos costumam ser arremessados principalmente sobre os muros dos pavilhões C e D ou são levados nas visitas. As drogas também podem ser transportadas por amigos e familiares.

Além dos celulares, houve a apreensão, nos últimos três anos, de 31 armas industriais, como pistolas e revólveres, e drogas (veja o quadro ao lado). Os revólveres e pistolas exigem uma investigação apurada, pois os sistemas detectores de metais têm o poder de identificá-las com precisão. Bortolotto diz que a “recompensa” para quem levar uma arma pode chegar a até R$ 15 mil.

– Os presídios são tratados como um mundo à parte. O que acontece lá, em grande medida, fica sem apuração, figurando como um simples registro de ocorrência. Cada apreensão de drogas ou armas nos presídios deveria gerar uma investigação. A preocupação do Estado deveria ser muito maior do que é – aponta.

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