ZERO HORA 12 de janeiro de 2014 | N° 17671
por .JOSÉ LUÍS COSTA
ENTREVISTA
“Está na hora de a elite olhar esse assunto de frente”
Para o antropólogo carioca Roberto DaMatta, a crise do Maranhão e a condenação de políticos de primeira grandeza envolvidos no esquema do mensalão forçará melhorias no cenário prisional. As manifestações sociais e a Copa do Mundo também vão impor mudanças, acredita DaMatta. A seguir, trechos da entrevista concedida pelo antropólogo de 77 anos, na noite de sexta-feira.
Zero Hora – Os episódios do Maranhão demonstram a realidade prisional do Brasil?
Roberto DaMatta – Tem a ver, sim. Uma pessoa, se for condenada, se for preta, está ferrada. Tem de fazer uma revisão de tudo isso, uma coisa séria. Tá na hora de a elite brasileira, sobretudo a elite política, o governo, que tem obrigação, que é pago para isso, olhar esse assunto de frente. Precisa melhorar todo o sistema legislativo prisional, dignificar a vida dessas pessoas. Fazer o mesmo com a educação e com saúde. Fotografias que vi, vídeo eu não procurei ver, são estarrecedoras. E não é a primeira vez que acontece no Maranhão. O Conselho Nacional de Justiça vem advertindo o governo do Maranhão há muito tempo.
ZH – Desde 2008.
DaMatta – É o momento, que, pela primeira vez, tem a elite política presa, então, está na hora de olhar para as prisões. Uma coisa, ainda que indiretamente, ligada a outra.
ZH – O mensalão tem ligação com o Maranhão?
DaMatta – Sim. Como vai prender e tratar preso de maneira aristocrática? Não pode, né? Se eu for preso, se você for preso, estaremos sujeitos ao mesmo regime dos outros presos. Como se faz para prender gente importante? Tem de ter prisão decente para todos. Por definição, a prisão é, radicalmente, igualitária. Você perde a liberdade e a distinção.
ZH – Que tipo de consequências terão esses episódios para a sociedade brasileira?
DaMatta – O caso do Maranhão é a ponta de um iceberg que faz um Titanic afundar, mas pode nos ajudar. Esse conselho (união de esforços proposto pelo governo federal) que reúne gente experiente, pode mudar o sistema, pode servir de experiência para outros Estados darem mais dignidade a seus presos. Estão metendo a mão em uma coisa que é complicada, provavelmente, porque tem eleições.
ZH – Pode ser uma questão eleitoreira?
DaMatta – O fato desse assunto ter se tornado uma crise, e o governo federal prestou atenção, porque é uma barbaridade inominável, tem a ver com o fato de que este ano tem dois eventos fundamentais. Teremos uma Copa do Mundo, que vai colocar o Brasil no palco mundial, não só pela globalização, mas como país, como organização, e uma eleição presidencial. Será um ano complexo, e certos problemas não podem ficar sem respostas.
ZH – O que as autoridades fizeram ou deixaram de fazer para o caos no Maranhão?
DaMatta – É um problema antigo. A sociedade é extremamente desigual. Agora, a gente começa a ficar mais impaciente com as desigualdades engendradas por injustiças que são muito agudas no Brasil. Hoje, temos um sistema com transparência maior, com uma demanda muito maior de eficiência dos agentes públicos. Quando sai uma notícia que o governo do Maranhão está comprando caviar e champanha e, ao mesmo tempo, acontece isso na prisão, você tem vontade de sair de casa e fazer uma manifestação na frente do Palácio dos Leões (sede do governo do Estado).
ZH – O senhor é otimista, acredita em resultados positivos?
DaMatta – Não tenho como especular se vai dar certo ou errado.
ENTREVISTA
“Está na hora de a elite olhar esse assunto de frente”
Para o antropólogo carioca Roberto DaMatta, a crise do Maranhão e a condenação de políticos de primeira grandeza envolvidos no esquema do mensalão forçará melhorias no cenário prisional. As manifestações sociais e a Copa do Mundo também vão impor mudanças, acredita DaMatta. A seguir, trechos da entrevista concedida pelo antropólogo de 77 anos, na noite de sexta-feira.
Zero Hora – Os episódios do Maranhão demonstram a realidade prisional do Brasil?
Roberto DaMatta – Tem a ver, sim. Uma pessoa, se for condenada, se for preta, está ferrada. Tem de fazer uma revisão de tudo isso, uma coisa séria. Tá na hora de a elite brasileira, sobretudo a elite política, o governo, que tem obrigação, que é pago para isso, olhar esse assunto de frente. Precisa melhorar todo o sistema legislativo prisional, dignificar a vida dessas pessoas. Fazer o mesmo com a educação e com saúde. Fotografias que vi, vídeo eu não procurei ver, são estarrecedoras. E não é a primeira vez que acontece no Maranhão. O Conselho Nacional de Justiça vem advertindo o governo do Maranhão há muito tempo.
ZH – Desde 2008.
DaMatta – É o momento, que, pela primeira vez, tem a elite política presa, então, está na hora de olhar para as prisões. Uma coisa, ainda que indiretamente, ligada a outra.
ZH – O mensalão tem ligação com o Maranhão?
DaMatta – Sim. Como vai prender e tratar preso de maneira aristocrática? Não pode, né? Se eu for preso, se você for preso, estaremos sujeitos ao mesmo regime dos outros presos. Como se faz para prender gente importante? Tem de ter prisão decente para todos. Por definição, a prisão é, radicalmente, igualitária. Você perde a liberdade e a distinção.
ZH – Que tipo de consequências terão esses episódios para a sociedade brasileira?
DaMatta – O caso do Maranhão é a ponta de um iceberg que faz um Titanic afundar, mas pode nos ajudar. Esse conselho (união de esforços proposto pelo governo federal) que reúne gente experiente, pode mudar o sistema, pode servir de experiência para outros Estados darem mais dignidade a seus presos. Estão metendo a mão em uma coisa que é complicada, provavelmente, porque tem eleições.
ZH – Pode ser uma questão eleitoreira?
DaMatta – O fato desse assunto ter se tornado uma crise, e o governo federal prestou atenção, porque é uma barbaridade inominável, tem a ver com o fato de que este ano tem dois eventos fundamentais. Teremos uma Copa do Mundo, que vai colocar o Brasil no palco mundial, não só pela globalização, mas como país, como organização, e uma eleição presidencial. Será um ano complexo, e certos problemas não podem ficar sem respostas.
ZH – O que as autoridades fizeram ou deixaram de fazer para o caos no Maranhão?
DaMatta – É um problema antigo. A sociedade é extremamente desigual. Agora, a gente começa a ficar mais impaciente com as desigualdades engendradas por injustiças que são muito agudas no Brasil. Hoje, temos um sistema com transparência maior, com uma demanda muito maior de eficiência dos agentes públicos. Quando sai uma notícia que o governo do Maranhão está comprando caviar e champanha e, ao mesmo tempo, acontece isso na prisão, você tem vontade de sair de casa e fazer uma manifestação na frente do Palácio dos Leões (sede do governo do Estado).
ZH – O senhor é otimista, acredita em resultados positivos?
DaMatta – Não tenho como especular se vai dar certo ou errado.
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