domingo, 12 de janeiro de 2014

AS IMAGENS QUE NÃO PUBLICAMOS

ZERO HORA 12 de janeiro de 2014 | N° 17671


CARTA DA EDITORA | MARTA GLEICH*

*Diretora de Redação

Em uma Redação, inúmeras decisões são tomadas durante um dia. Que notícias – dentre as milhares que acontecem no mundo, no país, no Estado e na cidade – serão escolhidas? Quem vai apurar cada matéria? Vamos ouvir a fonte A, B ou C? Que foto será publicada – e quantas outras serão descartadas? Que expressão traduz melhor o que se quer dizer a cada frase escrita? Dentre três assuntos que podem ser manchete, qual é o melhor?

A cada minuto, escolhas como essas são feitas para entregar ao leitor o melhor conteúdo possível, seja no site de zerohora.com, nos aplicativos do tablet e do smartphone, ou na edição impressa de todo dia – como esta que você tem em mãos.

Muitas das decisões são fáceis e, quanto mais tarimbado é o jornalista, mais natural torna-se a escolha. Outras nem tanto. E, em algumas, não há certo e errado. Na terça-feira à tarde, um desses momentos aconteceu. O site da Folha de S.Paulo publicou, na manchete, um vídeo – reproduzido no YouTube – mostrando presos decapitados no complexo de Pedrinhas, no Maranhão. Gravado por detentos amotinados, os dois minutos e 32 segundos são um filme de terror: as cabeças colocadas em cima dos corpos, o chão ensanguentado. A Redação de Zero Hora em seguida obteve o vídeo original com o Sindicato dos Servidores do Sistema Penitenciário do Estado do Maranhão.

Seguiu-se uma discussão na Redação e no Comitê Editorial do Grupo RBS: devemos ou não publicar o vídeo no site e frames no jornal impresso do dia seguinte? É preciso mostrar a cena para denunciar a barbárie? É um documento histórico do indizível terror das prisões brasileiras? Podemos sonegar essa informação? A publicação contribui para a discussão de soluções para o sistema penitenciário? Ou a cena é forte demais, só vai chocar nossos leitores, e é a violência pela violência?

Venceu a segunda interpretação. Não publicamos o vídeo, nem imagens no jornal impresso. Curiosa e sintomaticamente, quem mais consome internet e games na Redação votou a favor da publicação. Talvez acostumados a ver coisas piores no YouTube e nos jogos de violência. Assim como os repórteres ligados aos temas de Segurança, que lidam com isso todo dia. Os argumentos para não publicarmos foram que as cenas eram terríveis demais, que poderíamos estar escorregando para o sensacionalismo, ou explorando a desgraça.

O fato de estar no YouTube “libera” os sites de jornais a publicarem as imagens, já que o público pode encontrá-las de qualquer forma? É preciso publicar para que o registro mobilize a sociedade contra o horror? O jornal, como veículo de massa, tem limites na publicação desse tipo de imagem ou estamos sendo muito conservadores, já que crianças e adolescentes estão vendo coisa pior na internet? O que você, leitor, acha da nossa decisão?

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