terça-feira, 7 de janeiro de 2014

A BARBÁRIE NOSSA DE CADA DIA

ZERO HORA ONLINE 07/01/2014 | 18h42


Em menos de um ano, pelo menos 62 presos foram mortos em penitenciária do Maranhão


Até mesmo para quem conhece os padrões medievais de grande parte do sistema prisional brasileiro, a orgia de assassinatos, torturas e outros crimes registrada no complexo penitenciário de Pedrinhas, no Maranhão, ultrapassa todos os limites.

Em menos de um ano, 62 presos foram mortos (14 decapitados). Um vídeo de dois minutos e 32 segundos, gravado por detentos amotinados, mostra presos com cabeças arrancadas pelos rivais — e seus algozes caminhando em meio a poças de sangue. Alguns deles, esfaqueados dezenas de vezes.

Um dos mortos foi esquartejado em pequenos pedaços. Os matadores posam para a câmera, supostamente de um celular, para exibir sua obra de horror. A Folha de São Paulo optou por publicar em seu site um desses vídeos, que também está disponível no YouTube. Zero Hora decidiu não exibi-los, porque as imagens são muito chocantes.

Há também relatos de torturas praticadas contra presidiários que não pertencem a facções e de estupros de mulheres que entram no presídio para visitas íntimas. Chamar Pedrinhas de inferno é pouco para definir.

A superlotação, velha conhecida dos presídios brasileiros, é a causa maior por trás do descontrole mortífero naquele complexo prisional. Relatório do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) divulgado no final de semana diz que as nove cadeias de Pedrinhas têm 1,7 mil vagas, mas abriga 2,5 mil detentos.

Para quem está acostumado com os padrões gaúchos, nada muito espantoso. O Presídio Central de Porto Alegre costuma abrigar mais de 4,4 mil presos, mas tem capacidade para 2,1 mil. É outra bomba-relógio, que o governo gaúcho promete desarmar.

O CNJ constatou que a maior rivalidade no complexo de Pedrinhas é de presos da capital maranhense, versus presos do interior do Estado. Eles formam duas facções diferentes. Enquanto a matança acontecia entre quatro paredes a população não berrou, embora os crimes fossem denunciados por entidades de direitos humanos. Cientes de que sua tática macabra contra a superlotação — e contra os adversários — não comovia, uma das facções, a mais urbana, ordenou atentados nas ruas de São Luís (MA).

O resultado foi a morte da menina Ana Clara de Souza, seis anos, queimada por bandidos que não hesitaram em atear fogo a um ônibus com pessoas dentro. Difícil encontrar um animal capaz dessa crueldade. É por isso que a decisão de intervir com tropas forasteiras no Maranhão é mais que acertada. É hora de estancar a barbárie.

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