ARTIGOS
Flávio Tavares*
A trágica estupidez ocorrida na penitenciária de Pedrinhas, no Maranhão, me obriga a uma pergunta: será que aquela demência criminosa existiu mesmo? Tudo é tão terrorífico, que soa a invencionice fantasiando desastres. Afinal, como lembrou a governadora Roseane Sarney, o Maranhão cresceu e progrediu tanto nos últimos tempos, que é natural que a violência aumente também... É estranho aceitar que o progresso gera o horror, mas o ministro da Justiça estava ao lado da governadora, ouviu o que ela disse e não discordou da interpretação. Portanto, avalizou tudo o que ela sustentou. Se discordasse, teria exclamado, pelo menos, um alto lá. Ao contrário, o ministro Cardozo silenciou, consentindo com o que ouvia.
Em suma: aquele horror que assombrou o Brasil inteiro é mera ilusão gerada pelo crescimento!
As estatísticas mostram que, enquanto o Brasil cresceu menos de 3% na última década, o Produto Interno Bruto do Maranhão aumentou mais de 14%, num ritmo maior do que o da China, hoje paradigma de progresso no planeta. Em termos estatísticos, a bandidagem podia ter sido até maior (pois aumentou menos do que o PIB...) e, ainda assim, estaria dentro dos parâmetros apontados pela governadora e admitidos pelo ministro da Justiça...
Portanto, o distante Maranhão não é a realidade que a imprensa revela, mas os números do PIB que a estatística apresenta!!
Os subterfúgios e disparates são tão usuais nos lábios dos políticos profissionais, que já nos acostumamos ao absurdo, que parece gerado pelos devaneios do LSD, do ecstasy ou da Cannabis trazida do Uruguai. Mas colocar a vida dentro das estatísticas e, ao mesmo tempo, negar a vida ao redor, é acintoso.
É um acinte julgar que somos 200 milhões de tolos, tão imersos e submersos na tolice, que aceitamos qualquer mentira travestida de verdade.
Ou, estou errado eu e, em verdade, somos tolos? Sim, pois estamos em 2014, a quase sete meses daquele junho de 2013 em que saímos às ruas para exigir um fim à mentira e à corrupção, mas só nos responderam com palavras. Nenhum ato concreto. Nem sequer promessas. Tempos atrás, os políticos prometiam. Nada resolviam, mas o ato de prometer os comprometia para o futuro e nos dava elementos para exigir que cumprissem. Ou para desmascará-los. Agora, nem promessas. Só evasivas.
Neste janeiro, estamos ainda tão apegados às coisas não resolvidas de 2013 que, de fato, o novo ano nem começou. Pouco a pouco, porém, esqueceremos tudo, como já olvidamos os escândalos de 2012, 2011 ou mais atrás. E aquela história dos 22 quilômetros da nova estrada de Porto Alegre a Sapucaia, ao custo de mais de R$ 1 bilhão? E as fraudes na merenda escolar? Ou as do Detran, ainda mais terríveis por nascerem no seio da Universidade de Santa Maria? E as falcatruas nas secretarias de Meio Ambiente do Estado e do município de Porto Alegre? E tanta coisa próxima e já distante!
A reforma política anunciada como resposta às manifestações de junho de 2013 redundou na criação de novos partidos, como se a falta deles gerasse a surdez e a cegueira dos donos do poder. Os novíssimos partidos já nascem com deputados e senadores, de olho nos R$ 426 milhões do Fundo Partidário, dinheiro nosso a ser usado em propaganda. Alguns nem precisariam disso. Nesta semana, por exemplo, soube-se que o fundador do PSD, Gilberto Kassab, contratou um avião para levar ao interior de Mato Grosso a dinheirama obtida quando prefeito de São Paulo...
Janeiro é mês de luzes e não quero molestar as férias (nem o trabalho) de ninguém, mas estamos ainda em 2013, em busca do PIB do Maranhão.
*JORNALISTA E ESCRITOR
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