PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA
ATÉ O ÚLTIMO DIA
Dois minutos e 32 segundos de um vídeo gravado por detentos amotinados no complexo de Pedrinhas, no Maranhão, são suficientes para cristalizar a impressão de que, em pleno século 21, a barbárie venceu a civilização nesse canto do Brasil. Para ver as imagens é preciso ter estômago forte e um motivo que justifique esses 152 segundos de terror diante da tela do computador, sabendo-se que não se trata de uma ficção de mau gosto, mas de cenas reais. Que motivo justificaria assistir a esse vídeo, que está no YouTube e foi publicado no site da Folha de S.Paulo? O dever de ofício de um jornalista.
Gravadas com um celular, as imagens de presos decapitados por rivais – e de seus algozes caminhando em meio a poças de sangue – são representativas da falência do sistema penitenciário no Maranhão, que não é muito diferente em outras regiões do Brasil, mas lá 60 presos foram mortos só em 2013. Desde o fim de semana, a violência no Maranhão não para de chocar o país.
Primeiro, foi o incêndio de quatro ônibus, ordenado de dentro da prisão pelos amotinados. Em um deles, estava a menina Ana Clara, de seis anos, que teve 90% do corpo queimado. A criança morreu, a mãe está hospitalizada em estado grave e o bisavô sofreu um ataque cardíaco fulminante quando soube que Ana Clara não havia resistido.
O vídeo dos decapitados lembra uma foto histórica das cabeças cortadas de Lampião, Maria Bonita e alguns dos integrantes de seu bando, degolados pelas forças de segurança. Virgulino Ferreira, o cangaceiro nordestino, multiplicou-se na prisão infecta de Pedrinhas. As autoridades subordinadas à governadora Roseana Sarney (PMDB) perderam o controle do presídio e ela foi obrigada a aceitar a ajuda oferecida pelo Ministério da Justiça para transferir os líderes da rebelião para presídios federais.
Herdeira do senador José Sarney, Roseana governa pela quarta vez o Maranhão, Estado que há anos – com breves hiatos – está sob domínio de sua família. Os Sarney dão nome a ruas, escolas, pontes hospitais e outros bens públicos, ganham eleição após eleição, fazem alianças aparentemente incoerentes para se manter no poder, mas não conseguem melhorar os indicadores sociais nem oferecem presídios com as condições mínimas para recuperar um preso.
O estouro da panela de pressão conhecida como “Complexo de Pedrinhas” deve servir de alerta para outros governos que não investem na ressocialização de presos, acham natural que os condenados tenham como punição adicional o cumprimento da pena em condições desumanas e, assim, transformam presídios em escolas do crime.
O superlotado Presídio Central, em Porto Alegre, é uma bomba-relógio que o governo Tarso Genro promete desarmar até o final do ano ou, no mínimo, criar as condições para que seja esvaziado. No momento, está contando o prazo de 15 dias, dado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, para que sejam corrigidos seus principais problemas.
Com temperatura acima de 34ºC e vestindo terno e gravata, o presidente da Assembleia Legislativa, Pedro Westphalen (PP), sofreu, mas conseguiu cumprir a missão de visitar quatro projetos sociais na tarde de ontem, na Restinga, em Porto Alegre. O deputado decidiu dispensar o recesso e quer aproveitar os últimos dias na chefia do Legislativo para intensificar as atividades iniciadas em 2013. Em um dos compromissos, conheceu os meninos da escolinha de futebol Craque Sim, Pedra não, aberta pela comunidade.
– Fiz questão de visitar esse projeto porque ele, embora tenha participação da prefeitura e do Estado, é mantido pelos moradores. Isso é muito interessante – explicou.
A partir do dia 31 deste mês, Westphalen sai da Mesa Diretora e volta para o plenário, dando lugar a Gilmar Sossella (PDT). O deputado, que dará uma entrevista coletiva nas próximas semanas para fazer um balanço de sua gestão, comemora que a pauta da Assembleia tenha sido zerada no fim do ano.
– Foi um ano de intenso trabalho legislativo. Aprovamos a nova legislação de prevenção a incêndios, o relatório da CPI da Telefonia e votamos tudo que tínhamos de votar – afirma.
O presidente da Assembleia será novamente candidato a deputado estadual nas eleições de outubro.
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