WANDERLEY SOARES, O SUL
Porto Alegre, Quinta-feira, 26 de Abril de 2012.
O crack perdeu espaço para o Presídio Central.
Aqui da minha torre, mesmo com os dias ensolarados de outono, não é possível antever, ainda que a longo prazo, uma real solução para o sistema prisional gaúcho e, principalmente, no que se relaciona ao Presídio Central. Processos paliativos deverão ocorrer, obrigatoriamente, até mesmo em curto prazo, mas isso não é sinônimo de solução. O clamor que envolve a mídia e alguns setores do poder público é um fenômeno cíclico, até mesmo sazonal, que deverá gradativamente ser engolido por outros clamores.
Noto, por exemplo, que o flagelo do crack perdeu grande espaço para o Presídio Central. Logo adiante, é certo que as posições serão trocadas. Quando estas questões forem colocadas sem projetos mirabolantes, como o tal presídio para abrigar três mil almas, em Canoas, ideia da era Yeda Crusius, que chegou a mandar ao Reino Unido uma comissão de notáveis em busca de novas ideias para a política penitenciária, quando o atual titular da pasta da Segurança, Airton Michels, que é um especialista em sistema penitenciário, apresentar projetos concretos, viáveis e urgentes para o tema, será possível acreditar que alguma coisa possa avançar com a mesma velocidade da Arena do Grêmio, antes da Copa.
Por ora, da minha torre, com meus conselheiros, apenas tem sido possível colher a beleza da retórica dos discursos que serve como desodorante do malcheiroso Presídio Central.
Curiosidades
Uma sargento PM suspeita de facilitação de entrada de visitantes num presídio, por ora, foi afastada de uma casa prisional para trabalhar, nas mesmas funções, em outra. Decisão curiosa, no mínimo.
Com o superaquecimento dos debates em torno do flagelo que significa o Presídio Central, temas como o do auxílio moradia envolvendo o Judiciário passaram para um terceiro plano. Todo o clamor midiático deságua, agora, no sistema penitenciário.
Cachimbo
A busca de alternativas para o Presídio Central de Porto Alegre que possam evitar um constrangimento internacional para o Brasil levou a Ajuris a abrir um canal de negociação com o governo do Estado. Esta foi uma das ações definidas na mesma reunião do Conselho Executivo que decidiu ingressar com representação na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, ligada à OEA (Organização dos Estados Americanos). Ontem, foi realizada a primeira reunião com o secretário estadual da Segurança Pública, Airton Michels. O encontro serviu para levar ao governo a posição da entidade. O presidente Pio Giovani Dresch e o vice Administrativo, Eugênio Couto Terra, deixaram claro que a intenção da Ajuris é melhorar a condição de vida dos presos para que eles possam ser ressocializados. Também é interesse da associação dos magistrados que o sistema carcerário não seja responsável por gerar mais violência e insegurança à sociedade. Enfim, a coisa será discutida com o sabor do cachimbo da paz.
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