Insalubridade: resto de alimentos são jogados das celas
Fuga de detentos expõe deficiências de presídios
Três apenados escapam de prisão considerada alternativa ao Central e que mostra sinais de degradação
A fuga de três detentos da Penitenciária Modulada Estadual de Charqueadas deu visibilidade a um problema antigo enfrentado por diferentes prisões gaúchas. Superlotadas, com estrutura física deteriorada e falta de servidores, elas não conseguem cumprir com êxito a função de garantir a segurança.
Por volta das 6h de ontem, Maurício Santos Neto, Patrick Melo Padilha e Michel Alves dos Santos escaparam por um buraco na cela, feito a partir da retirada de blocos de concreto. Com uma jiboia, espécie de corda juntando lençóis e roupas, eles teriam pulado a muralha e, depois, burlado a guarda externa. A Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) deslocou corregedores para o município, que abriram uma sindicância. Até a noite de ontem, o trio permanecia foragido.
As falhas vão muito além do fato em si. O juiz da Vara de Execuções Criminais (VEC) Sidinei Brzuska lembra que, além de operar com mais presos do que a capacidade, o número de servidores é insuficiente. Das 12 guaritas, normalmente só quatro seriam ocupadas por guardas, o que facilitaria que celulares e outros objetos sejam jogados por cima do muro.
– A unidade deveria ter dois presos por cela e eles deveriam fazer as refeições no refeitório. Tem cinco presos por cela e não cabem todos no refeitório. Também não tem servidor para remanejar o preso para lá e para cá – afirma Brzuska, que visitou o local na quarta-feira com outros juízes, que enviarão um relatório para o Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Integrante da Promotoria de Fiscalização de Presídios, o promotor Gilmar Bortolotto diz que a situação não é exclusiva da Modulada – pode ser observada em grande parte dos presídios de Porto Alegre e Região Metropolitana. Além de não oferecer a segurança que deveria, é muito difícil uma casa prisional como a modulada de Charqueadas recuperar alguém.
– São situações que se arrastam, que a gente cobra, mas a evolução é lentíssima – salienta Bortolotto.
Erguido durante o governo de Antônio Britto (1995-1998), o presídio tinha 476 vagas. Com uma nova ala, recebeu mais 500, metade delas já ocupadas. A previsão é de que o restante comece a ser preenchido no mês que vem. Atualmente, 1.271 detentos vivem na penitenciária. Sobre a situação do local, a Susepe afirma que se pronunciará depois de analisar o relatório do CNJ.
EDUARDO ROSA
O presidente do Sindicato dos Servidores Penitenciários do Rio Grande do Sul, Flávio Berneira Júnior, frisa que as penitenciárias moduladas, teoricamente, devem operar com 17 servidores por módulo. Mas a realidade seria de quatro ou cinco. Essa é uma das razões que atribui para a fuga em Charqueadas, além do excesso de detentos e da neblina registrada ontem.
– O servidor não consegue desempenhar o trabalho como deveria por falta de pessoal, superlotação e porque ele não se sente institucionalmente apoiado. Acaba usando mais força, pois não tem outra alternativa – diz Berneira.
Um relatório assinado em 19 de abril pelo então delegado da 9ª Delegacia Penitenciária Regional, Celcer Uchasky, alertava que o complexo prisional de Charqueadas “tem pagado um elevado ‘preço’ para manter a ‘ordem’ do Presídio Central”.
NOVA ALA - Penitenciária de Charqueadas deve dobrar número de vagas
- Vagas: 500 (mais as 476 já existentes)
- Presos: 250 vagas foram ocupadas, e as outras 250 devem começar a ser preenchidas no mês que vem (a ocupação total é de 1.271 detentos)
- Investimento: R$ 8,8 milhões
- Presos: 250 vagas foram ocupadas, e as outras 250 devem começar a ser preenchidas no mês que vem (a ocupação total é de 1.271 detentos)
- Investimento: R$ 8,8 milhões
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