ZERO HORA 07 de agosto de 2012 | N° 17154
LUGAR INESPERADO. Apenado que liderou plano para explodir albergue em Caxias mantinha boca de fumo no prédio
GUILHERME A.Z. PULITA
O monitoramento de conversas telefônicas do chefe de uma quadrilha de traficantes evitou que o Albergue Prisional de Caxias do Sul fosse destruído em um incêndio criminoso. As interceptações autorizadas pela Justiça também revelaram que o detento havia transformado o prédio em um de seus principais pontos de venda de entorpecentes.
Volmir da Silva foi apontado por uma investigação do Ministério Público e da Agência Regional de Inteligência (ARI) como o mentor do plano para destruir o albergue. A intenção era forçar a Vara das Execuções Criminais (VEC) a determinar que todos os presos cumprissem pena em prisão domiciliar. O movimento criminoso foi freado em uma operação conjunta entre MP, Brigada Militar, Judiciário e Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) na madrugada de 15 de junho.
Silva, de acordo com a promotora de Justiça Sílvia Regina Becker Pinto, começou a ser investigado em janeiro deste ano, quando uma organização criminosa especializada em tráfico e com vários tentáculos na cidade virou alvo da 4ª Promotoria Especializada Criminal.
Apurando as atividades dele, PMs que atuam com o MP descobriram, além da relação do apenado do semiaberto com outros grupos de traficantes, suas operações dentro do Albergue Prisional.
Na tarde de 23 de março, Silva recebeu a ligação de outro preso do semiaberto. O homem perguntou se ele ainda tinha da “branca”, em alusão à cocaína. Diante da afirmativa do traficante, o outro preso então fez uma encomenda:
– Leva vinte – encomendou o detento, que na mesma ligação informou que faria parte do pagamento naquela noite.
Suposto apoio de servidor público ainda não foi apurado
Na noite do dia seguinte, quando já estava no interior do albergue, Silva recebeu a ligação de uma pessoa não identificada pela investigação. O homem seria um dos fornecedores da droga. Silva avisa ter levado “trinta” para dentro do albergue. Conforme as investigações, seriam 30 papelotes de cocaína.
O chefe da Agência Regional de Inteligência do Comando Regional de Polícia Ostensiva, Flori Chesani Junior, explica que os policiais descobriram que, além de vender drogas para outros presos recolhidos no albergue, Silva vendia droga para viciados e pequenos traficantes que estavam em liberdade.
– Descobrimos que ele (Silva) tinha uma boca de fumo aberta para pessoas de fora do albergue. Elas iam até o prédio buscar cocaína. Ele estava traficando, teoricamente, protegido pela estrutura do Estado – explica o oficial.
Nem o Ministério Público, Brigada ou Susepe sabem se Silva contava com apoio de algum servidor público para encobrir seus negócios dentro e fora do albergue. Mas os grampos revelam que ele negociava drogas com frequência e tinha uma quantidade considerável de cocaína armazenada no prédio, já que havia oferecido mais droga ao homem não identificado.
A gravação
O principal flagrante da investigação aconteceu às 22h do dia 24 de março. Volmir da Silva, confinado no albergue, recebe uma ligação em seu celular de um homem não identificado ao longo das interceptações. Silva inicia o diálogo tranquilizando a pessoa, dizendo que está com a droga e que ela será entregue no portão do albergue:
Silva – Já tá na mão, veio
Homem – Vou mandar ir ali no portão, então.
Silva – Manda aí que vô separa aqui, tá ligado? Dez de 10.
Homem – Tá.
Silva – Se tu tiver mais 250 (reais), manda aí que te mando 20.
A tradução: manda o rapaz vir buscar que estou enviando 10 papelotes de cocaína ao preço de R$ 10 cada.
TRANSFERÊNCIA SEM EFEITO - Volmir da Silva seguiu traficando dentro do albergue prisional até a madrugada de 15 de junho, data em que MP, BM, Judiciário e Susepe decidiram transferir presos para evitar que o albergue fosse incendiado no domingo, dia 17. Na manhã de 10 de junho, presos haviam incendiado parte do albergue. Eles pretendiam forçar a Justiça a determinar a prisão domiciliar para todos os presos, porém, alguns deles desistiram do plano e o prédio não queimou completamente. Para evitar que o plano fosse novamente executado, PMs e agentes da Susepe invadiram o albergue para fazer uma revista geral e transferir 50 presos. Entre eles, Volmir da Silva, apontado pelas investigações como o dono de parte das drogas apreendidas naquela madrugada. De acordo com a promotora, três dias após ter sido transferido para o Presídio Estadual de Rio Grande, Silva já estava operando com três números de celulares diferentes comandando o tráfico em Caxias do Sul. Cabia à companheira dele continuar no comando do ponto de tráfico. A mulher seguiu traficando até ser presa pela BM no dia 16 de junho, com cocaína.
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