ZERO HORA 03 de janeiro de 2017 | N° 18731
SUA SEGURANÇA | HUMBERTO TREZZI
O banho de sangue registrado em Manaus, com 55 presos mortos, equivale a meio Carandiru, o massacre que em 1992 deixou 111 assassinados na maior cadeia paulista. A diferença é que há 25 anos os apenados foram mortos pela Polícia Militar. Agora, no Amazonas, o conflito foi entre detentos. O que há em comum entre os dois fatos, além do número impressionante de mortes? Uma sigla: PCC (Primeiro Comando da Capital), maior facção prisional do país. Ela nasceu justamente como reação dos presos ao massacre do Carandiru.
Os apenados decidiram se organizar para que o episódio não se repetisse, para que guardas e policiais respeitassem sua condição de prisioneiros. Fizeram isso com estatuto e solenidade. Pois a organização saiu de trás das grades e ganhou as ruas. Primeiro, em São Paulo, onde o PCC se tornou máfia hegemônica, nas prisões e favelas. Depois, espalhou tentáculos em outros Estados. E ao migrar, a facção paulista desagradou as quadrilhas nativas e também outros grupos de envergadura nacional. Os primeiros embates sangrentos aconteceram em Mato Grosso do Sul, na fronteira Brasil-Paraguai. Lá, a guerra entre PCC e Comando Vermelho (CV) deixou centenas de cadáveres em 15 anos.
Os conflitos entre PCC e CV na fronteira tiveram trégua quando patrões do tráfico decidiram usar os mesmos contrabandistas de droga, compartilhando a complicada logística de fornecer cocaína e maconha ao Brasil. Cortaram custos e enriqueceram. A paz não durou. No Nordeste e no Norte, integrantes do CV – sempre influentes nessas regiões – reagiram à chegada do PCC com chacinas. Num contragolpe, o PCC tomou a maior favela carioca e do Brasil, a Rocinha.
Agora, esse barbarismo em Manaus: retrato de um sistema prisional permissivo e desumano.
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