ZERO HORA 05 de janeiro de 2017 | N° 18733
ALBERTO KOPITTKE*
Há 30 anos, as facções criminosas pareciam algo muito distante do Rio Grande do Sul. Naqueles tempos, o Estado tinha menos de 25% dos homicídios, roubos de veículos e a pedestres que temos hoje. Jovens com fuzil na mão só eram conhecidos pela TV, nos morros do Rio de Janeiro. E não nos preparamos para evitar que essa onda chegasse ao Estado.
Hoje, as antigas gangues e os bandidos mais lendários foram substituídos por facções que dominam o sistema prisional do Estado, disputam todas as vilas pobres das grandes cidades, algumas delas possuem mais de 10 mil membros e a violência explodiu nas ruas.
A chacina de 60 presos em Manaus é o alerta de uma nova onda, ainda mais violenta, que está chegando. Inúmeras reportagens têm divulgado desde meados do ano passado uma ofensiva nacional da facção que domina São Paulo e o rompimento dos acordos com a grande facção carioca e diversas facções regionais.
Essa organização é nada menos do que a maior organização criminosa do mundo. Nascida da aceleração do encarceramento em massa feita pelo Estado de São Paulo nos anos 1980 e 1990, possui hoje dezenas de milhares de membros em todo o país e uma estrutura econômica de dar inveja a grandes empresas.
A sua expansão pode produzir uma carnificina ainda maior do que aquela que temos visto cotidianamente em Porto Alegre e, posteriormente, pode estabelecer um monopólio do crime no Estado. A chamada “pax monopolista” até pode vir a produzir uma momentânea e ilusória redução de homicídios, mas faz explodir os crimes contra o patrimônio, além de acelerar a corrupção institucional, assassinar servidores da segurança e enfrentar frontalmente as forças públicas.
Em mais de três décadas, enquanto o crime se organizou, o RS não teve nenhum grande plano de segurança, definindo metas e prioridades entre os poderes, instituições e prefeituras. Salvo exceções, nossas polícias não receberam os recursos necessários para a sua modernização e nossos policiais não foram valorizados. Esperando salvadores ou soluções mágicas, tampouco a sociedade civil se organizou unindo forças com universidades e a imprensa para pensar soluções concretas e viáveis, que já tenham funcionado em outros lugares.
Enquanto seguimos desorganizados e iludidos com soluções pontuais, o tempo corre contra nós.
*Especialista em Segurança Pública
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