ZERO HORA 20 de janeiro de 2017 | N° 18747
OSVINO TOILLIER*
Estou atordoado com a crise dos presídios brasileiros e com a ideia de que o problema será resolvido única e exclusivamente com a construção de cadeias. Não há outro raciocínio possível, afora o investimento de milhões de reais na edificação de prisões para abrigar os presos, que estão se amotinando gradativamente em todo o país, para conseguirem melhores condições nos ambientes prisionais.
Alguém já imaginou reverter esse processo e investir esses milhões em melhorias e na construção de escolas, na qualificação e remuneração de professores, em esporte e projetos culturais a fim de abrir o leque de oportunidades para crianças e jovens, inibindo-os de seguirem o caminho das drogas, com o risco de serem levados ao mundo da violência e do crime?
Será que nossos governantes não chegam a pensar em trocar os pesados investimentos para manter pessoas presas e abrir escolas, onde floresce a vida em lugar da morte que enluta a sociedade brasileira e envergonha a todos nós, por não conseguirmos viabilizar a vida e a paz?
Por que não dá para sonhar com um mundo novo, pleno de amor e estímulo para o bem, em lugar da ganância e da exploração? Será que outro mundo não é possível? Pois eu creio que sim, desde que estejamos dispostos a investir nossos melhores esforços e energia para substituir morte por vida, violência por paz, agressão por amor.
Pode parecer ingênuo, mas não é, pode parecer simplista, mas não é. Sem sonho nada é possível; sem utopia continuaremos limitados às estatísticas de crescente violência.
Sinto-me desafiado a ajudar a desencadear um movimento para que meus filhos e netas não se envergonhem de mim; para que minha consciência possa ficar em paz e olhar nos olhos das crianças e ensinar- lhes que o “mínimo que a humanidade espera da gente é capacidade de indignação”, como nos ensina o professor Ruy Carlos Ostermann.
Não quero ser mais uma vítima da violência; não quero engrossar a triste estatística que, dia a dia, exibe o descalabro de uma sociedade que não é capaz de dar um basta à violência, que rouba vidas preciosas e enluta famílias cuja dor não encontra solidariedade nem acolhida. Um outro mundo tem que ser possível!
*Mestre em Educação e vice-presidente do Sinepe/RS
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