sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

CAMPO DE BATALHA EM PRESÍDIO DO RN



ZERO HORA 20 de janeiro de 2017 | N° 18747


GUERRA DE FACÇÕES EM PRISÃO da região metropolitana de Natal fez novos mortos, chegou às ruas e mobilizou envio de Forças ArmadasPelo menos 38 ataques a carros oficiais, ônibus e prédios do governo foram registrados desde quarta-feira, segundo o governo do Rio Grande do Norte. Conforme a administração estadual, o motim na cadeia de Alcaçuz, em Nísia Floresta, na região metropolitana de Natal, entrou ontem no sexto dia. Os ataques sucedem 26 assassinatos de integrantes da facção criminosa Sindicato do Crime por rivais do Primeiro Comando da Capital (PCC), grupo criminoso sediado em São Paulo.

Na tarde de ontem, a Secretaria da Segurança Pública informou que, entre os detentos que se confrontaram pela manhã e protagonizaram, ao vivo, luta campal em rede nacional, havia alguns com armas de fogo, além de facões. Imagens que circulam na internet de um vídeo feito pelos próprios apenados mostram presos deitados com ferimentos na perna e no pescoço. Alguns gemem de dor e dizem que levaram tiros.

No início da noite, o Batalhão de Choque da Polícia Militar entrou na prisão e confirmou haver mortos depois do confronto matinal. O número exato não foi divulgado até o fechamento desta edição. Entre os feridos estão detentos e também Ivo Freire, diretor da unidade, que se machucou de raspão com estilhaços de um tiro. Desde o início da rebelião, membros do PCC e do Sindicato do Crime caminham livremente pelo presídio. Em muitos momentos, policiais usaram bombas e tiros com bala de borracha, feitos a partir das guaritas, para impedir o encontro dos dois grupos.

Após as cenas que foram transmitidas pela TV ontem, o governador Robinson Faria (PSD) confirmou haver feridos, mas não deu detalhes do estado de saúde.

Nas ruas, a série de ataques assustou os moradores de Natal. Ao anoitecer, a cidade parecia deserta. Ao todo, foram registrados 15 ônibus incendiados e tiros disparados contra duas delegacias. Segundo a Secretaria da Segurança, os ataques estão sendo apurados, mas há indícios de que tenham sido ordenados por membros da facção Sindicato do Crime. A ação seria represália contra a transferência de 220 membros da facção do presídio de Alcaçuz. As remoções começaram na quarta-feira, após o Batalhão de Choque entrar na unidade.

Com os ataques, a frota de ônibus da cidade foi recolhida. Sem opção, poucas pessoas na rua acabavam optando por voltar para casa com táxis, que foram autorizados a fazer lotação.

PELO MENOS 119 MORTES EM CADEIAS APENAS EM 2017

O governador pediu ontem o “envio imediato” de tropas federais.

– Pedi ao presidente Michel Temer para autorizar o envio imediato, para hoje (ontem), das Forças Armadas para ocupar as ruas de Natal – disse à rádio CBN.

Após a declaração do chefe do Executivo potiguar, o presidente Michel Temer autorizou o uso de reforço federal para a segurança nas ruas de Natal. O Ministério da Defesa ainda não divulgou quantos militares serão deslocados para Natal e o horário de chegada das tropas.

Em Natal, segundo autoridades locais, criminosos atearam fogo a pelo menos 21 ônibus, dois micro-ônibus e cinco carros oficiais. Duas delegacias foram alvo dos bandidos. A polícia investiga a ligação entre as rebeliões em presídios e os atentados.

Só neste ano, pelo menos 119 homens morreram em confrontos em cadeias do país. RN foi o terceiro Estado a registrar matanças. No dia 1º, 56 presos morreram no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus (AM). Outros quatro detentos foram mortos nos dias seguintes. No dia 6, 33 foram mortos na Penitenciária Monte Cristo, em Roraima.

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