sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

VIOLÊNCIA COLOMBIANA NO BRASIL

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - Não concordo com a expressão "sistema prisional^", pois não existe um "sistema", mas um "SUBSISTEMA" que deveria estar vinculado ao SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL ESTADUAL e não à gestão político-partidária das Secretarias de Segurança que interferem em questões de justiça criminal e agem com irresponsabilidade na execução penal contando com a impunidade patrocinada pela leniência e lerdeza do Poder Judiciário que também tem a sua culpa pelo caos prisional. A "violência colombiana" é produto de um Estado que vem alimentando o crime com suas leis permissivas, justiça leniente, penas brandas, execução penal irresponsável, governos negligentes, legisladores omisso e forças policiais sucateadas, mal pagas, discriminadas, desvalorizadas e segregadas do sistema de justiça criminal.


ZERO HORA 05/01/2017

Por: José Luís Costa

Sistema prisional. Chacina em Manaus inaugura violência "colombiana" no Brasil . Em guerra, facções devem levar atos de crueldade das cadeias para as ruas, como em cartéis na Colômbia há três décadas




Dezenas de viaturas foram deslocadas ao complexo prisional em Manaus após chacina com 56 mortos Foto: Marcio SILVA / AFP

Com o assassinato de 56 detentos no Amazonas na virada do ano, 2017 começa com nova fase da violência no país. O conflito dentro do Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus, revela a força de grupos criminosos que dominam cadeias brasileiras e tendem a expandir suas desavenças e atos de crueldade para as ruas, a exemplo do que já ocorreu há três décadas na Colômbia.


O alerta é de especialistas como o ex-secretário da Segurança do Rio José Mariano Beltrame — primeira autoridade brasileira a advertir sobre o tema, em junho passado, quando a facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) matou o traficante Jorge Rafaat, no lado paraguaio da fronteira com o Brasil.


Rafaat era homem forte do Comando Vermelho (CV), criado havia quatro décadas no Rio de Janeiro. Até então enraizado em Pedro Juan Caballero, era o principal "exportador" de armas e drogas para o bando e aliados.

A execução de Rafaat, com rajada de 200 tiros de metralhadora calibre .50, capaz de derrubar helicóptero, é um divisor de águas. Rompeu a linha do crime organizado entre os dois países, levando o PCC a fincar sua bandeira em definitivo no Paraguai, incrementando ramificações com bases na Colômbia e no Peru.

O PCC tem integrantes ou apoiadores em 22 Estados brasileiros e a guerra contra o CV em Manaus é mais um capítulo do fim de uma antiga parceria entre aliados. O perfil empresarial do grupo paulista contrastou com o estilo informal dos cariocas, que medem forças derramando sangue.

— Há uma tendência muito preocupante. Não existe mais entreposto entre o Brasil e o Paraguai. Agora, o Paraguai é brasileiro. É uma situação grave que só tende a aumentar. Qualquer facção criminosa não precisa mais ir até lá. É só falar com o PCC, que é muito maior e mais profissional que o CV. Eles fornecem o que quiserem e onde quiserem. Cumprindo com pagamento, não há problemas — lamenta Beltrame.

O temor de especialistas é de que os confrontos intramuros das cadeias se reproduzam nas ruas, como protagonizado pelos cartéis de drogas de Cáli em Medellín, entre os anos 1980 e 1990. Pablo Escobar, chefe do bando de Medellín, ordenou ao menos 4 mil mortes, com explosões em estabelecimentos comerciais, prédios públicos e de carros-bomba, que vitimaram a população civil, policiais e autoridades.

O advogado Lúcio Constantino, professor universitário especialista em Criminologia, salienta que o Brasil perdeu o controle sobre a criminalidade, permitindo a criação de organizações criminosas que lembram as colombianas.

— Hoje, o Brasil está sim, uma Colômbia do Pablo Escobar. Existem regiões nas quais a polícia não chega, que a política não se atreve a acessar, que é um exemplo clássico da Colômbia. A diferença dos dois países é o espaço. Se pudesse dividir o Brasil em países, o Amazonas seria exemplo de Colômbia, porque há referência de produção de drogas lá — afirma Constantino.

O sociólogo Juan Mario Fandino, colombiano que vive no Rio Grande do Sul há 40 anos, lembra que até guerrilheiros que tinham objetivos de combate político se envolveram com o tráfico e com execuções.

Investigações da Polícia Federal apontam que a facção Família do Norte (FDN), aliada ao CV e responsável pela matança no presídio de Manaus, tem conexões com guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que forneceriam armas e drogas para o bando no Amazonas. Beltrame acrescenta que o terror vivido na Colômbia, de certo modo, faz parte do nosso cotidiano.

— Isso já acontece. Às vezes você vê, em certos lugares, que uma pessoa entrou em uma casa, matou o marido, a mulher, familiares e outros tantos que encontrou. A polícia vai investigar e descobre que era problema com o tráfico — acrescenta Beltrame.

Apreensão de fuzis cresceu 140% no RS


Mesmo com as previsões de Beltrame, quando alertou sobre as consequências do assassinato de Rafaat, autoridades nacionais não tomaram providências. O poderio bélico das quadrilhas é cada vez mais evidente. Estatística da polícia do Rio indica apreensão de um fuzil por dia. Em São Paulo, recolhem um fuzil a cada 48 horas.

No Rio Grande do Sul, apesar de não ser percebida a presença física de integrantes do PCC em cadeias e entre quadrilheiros, a facção paulista é apontada como fornecedora de armas pesadas para grupos locais. Apenas nos primeiros quatro meses de 2016, por exemplo, a apreensão de fuzis pela Polícia Civil gaúcha cresceu 140%.

— É a lei do crime. Quem fica devendo paga com a sua vida e com a de terceiros —acrescenta Beltrame.


O ex-secretário defende iniciativas conjuntas de municípios, Estados e União, inclusive com a participação do Ministério da Defesa, nas fronteiras, e a construção de 500 presídios para tentar sufocar a criminalidade. Se nada for feito, a tendência é de que o poder do crime organizado seja fortalecido.

— Podem aumentar as explosões de carros-fortes, assaltos a bancos, grandes roubos. É este o tipo de violência que vem por aí. Vão tentar se perpetrar dentro do poder público e outras instituições e pode virar um esquema cartelizado. Não podemos deixar chegar a esse ponto. Porque o cartel, quando tem de matar, mata.

Nenhum comentário: