domingo, 27 de janeiro de 2013

CONTROLE FROUXO




ZERO HORA 27 de janeiro de 2013 | N° 17325

Novas suspeitas em presídio

Funcionário afirma que administração de cadeia de Santa Maria não dificulta a entrada e o uso de celulares por detentos Trabalhador do Presídio Regional de Santa Maria


DIÁRIO DE SANTA MARIA

Após a publicação de fotografias – feitas por uma pessoa que trabalha no Presídio Regional de Santa Maria – mostrando apenados falando tranquilamente ao celular no pátio da cadeia, uma entrevista exclusiva do jornal Diário de Santa Maria lança suspeitas de novas irregularidades no funcionamento da prisão.

Segundo o entrevistado – que também trabalha no presídio e pediu para não ter a identidade revelada por medo de represálias –, os agentes penitenciários que tentariam retirar celulares e drogas dos detentos seriam repreendidos pela administração do presídio e pelo órgão disciplinar que funciona dentro da cadeia, a Atividade de Segurança e Disciplina (ASD).

Entre outras funções, a ASD é responsável por receber e investigar infrações cometidas pelos presos, abrir processos disciplinares (PAD) e encaminhá-los ao Fórum. O órgão é coordenado por um agente penitenciário.

A direção do presídio informou que apenas a Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe) se manifestaria sobre as denúncias. Procurado, o delegado regional da Susepe, João Manoel Amaral Ferreira, preferiu esperar a publicação da entrevista para, só depois, comentar o assunto.


ENTREVISTA - “Enquanto houver drogas, a cadeia estará tranquila”


Confira abaixo trechos da entrevista do funcionário do presídio ao jornal Diário de Santa Maria:

Diário de Santa Maria – Qual a orientação aos funcionários em relação aos presos quando eles estão no pátio do presídio?

Trabalhador – Um papel afixado em um posto do presídio orienta os agentes a não entrar no pátio enquanto os presos estiverem lá. A justificativa seria preservar a integridade física dos agentes. A determinação mascara o que realmente ocorre: os agentes são orientados a não entrar no pátio para que celulares e drogas não sejam apreendidos.

Diário – Por que a administração determinaria isso?

Trabalhador – Porque a cadeia tem de ter mulher e drogas. Enquanto houver drogas, a cadeia estará tranquila. Tira a droga deles (presos) para ver: vão incomodar. E incomodar não é interessante politicamente. Ninguém é imparcial (na administração) porque são todos cargos políticos.

Diário – Houve algum caso em que agentes agiram e não tiveram respaldo da administração?

Trabalhador – Um dia, um agente as viu (presas) ao telefone e com crack e tentou intervir. As presas o encheram de pedradas. Ele tirou (da cela) três que reconheceu e colocou no isolamento para posterior atitude da ASD, para ver se iam abrir processo administrativo ou o que fariam. A ASD não tomou nenhuma atitude e liberou as presas do isolamento. Dia desses, foram tirados dois celulares e carregadores de celas, e um bilhete identificando de quem eram os aparelhos. Isso foi levado à ASD, mas não chamaram a presa. Disseram para (o funcionário) fazer registro no livro de ocorrências e na delegacia e pronto. Disseram: “Não procura problema”.

Diário – A Corregedoria da Susepe é o órgão que investiga essas irregularidades. Por que os agentes não recorrem a ela?

Trabalhador – Corregedoria é uma função gratificada, cargo de confiança, como o de administrador, de delegado, de diretores do Departamento de Segurança Penal e da Susepe. Então, como um vai se queixar para o cara que o colocou lá (no emprego)?

Diário – Como os celulares e as drogas entram no presídio?

Trabalhador – Tem provas na Susepe, em raios X de visitantes, que a entrada de drogas e celulares é feita pela vagina e ânus de visitas. É só assim que entram. Elas (as mulheres visitantes) usam um papel para envolver (o celular), e o detector não o pega. E drogas, ele jamais vai pegar. Elas usam Corega (produto usado para fixar dentaduras) para colar o aparelho ou droga na parede da vagina.

Diário – Existe conivência ou facilitação por parte dos agentes?

Trabalhador – A maioria faz o que deve, mas começam (as restrições) pelo Ministério Público, pelo Judiciário... Se (um agente) fizer uma revista bem feita, estará constrangendo a visita.

Diário – Os agentes têm medo de fazer denúncias?

Trabalhador – Eles (administração) conseguem identificar os agentes (que fazem denúncias) porque os telefones são monitorados. O agente que trabalha para o Estado não pode usar celulares na galeria. O preso pode ter celular e não sofre sanção nenhuma. No máximo, 10 dias de castigo.

Diário – Os agentes se inibem diante da administração?

Trabalhador – Não, a prova está nas pedradas que o agente levou, nos celulares que já foram apreendidos. Mas fica muito ruim de trabalhar, porque eles (presos) não são penalizados. Saem, vão viajar e, quando voltam, levam 10 dias de castigo. Presos que cospem nos agentes são transferidos por 30 dias e voltam.

Diário – Como você analisa a situação do presídio?

Trabalhador – É um circo. Os funcionários são os espectadores, eles (presos) são os protagonistas, porque fazem o que querem, e a sociedade, é o palhaço, que banca e é a mais prejudicada. Porque esses que estão falando ao celular podem estar encomendando um assalto, um furto, uma transação de drogas...

Diário – Você teme que os presos tomem conta do presídio?

Trabalhador – Já tomaram conta.

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