FOLHA.COM 01/10/2012 - 05h00
Arquivos de facção criminosa chegam a 'chefes' na prisão por pen drive
ROGÉRIO PAGNAN
AFONSO BENITES
DE SÃO PAULO
JOSMAR JOZINO
DO "AGORA"
Cerca de 400 documentos apreendidos em operações policiais obtidos pela
Folha revelam que a organização criminosa PCC possui ramificações em
123 das 645 cidades do Estado e tem nas ruas um total de 1.343 bandidos.
Esse número equivale ao contingente de dois batalhões da
Polícia Militar e é quase o dobro do número de homens da Rota
-considerada a tropa de elite da polícia paulista.
A facção,
que está espalhada por todas as regiões do Estado, é hoje a principal
suspeita de cometer uma série de ataques contra as forças policiais do
Estado. Até ontem, desde o começo do ano, 73 PMs foram assassinados.
Conforme a vasta documentação que está em um banco de dados do
Ministério Público, cada um dos 1.343 criminosos é obrigado a pagar à
organização uma mensalidade de R$ 600, o que dá uma renda mínima de R$
805 mil para o PCC.
Em troca da mensalidade, o criminoso obtém
benefícios no caso de ser preso (advogado, ajuda financeira para a
família) e o direito de se identificar entre criminosos como integrante
do PCC.
A organização conta ainda com o lucro obtido com a
venda de drogas, cigarros contrabandeados para os presídios e assaltos.
Segundo é possível aferir nos documentos, o PCC arrecada por mês cerca
de R$ 6 milhões.
Os arquivos, elaborados pelos próprios
bandidos, foram apreendidos em três grandes operações policiais, já
embasaram o Ministério Público em duas denúncias judiciais e norteiam a
polícia na desarticulação da facção.
Nas acusações formais, promotores de Santos pediram a prisão de 16 suspeitos de tráfico de drogas e de formação de quadrilha.
Essa documentação mostra que os criminosos se instalaram até em cidades
pequenas, como Rifaina (na região de Ribeirão Preto), que tem 3.400
habitantes.
A capital paulista é o principal reduto do grupo,
com 689 integrantes. As regiões de Campinas, com 230 membros, e de
Santos, com 136, são outras em que o PCC tem um grande contingente.
Os arquivos revelam ainda o controle empresarial da facção, que cobra
metas até na venda de drogas. Há dezenas de funcionários que embalam os
entorpecentes, e uma série de "diretores" que são responsáveis por
gerenciar a contratação dos advogados, a comercialização de rifas e a
venda dos produtos ilícitos.
Editoria de arte/Folhapress
PEN DRIVE
Os arquivos apreendidos eram destinados aos chefes da organização como
uma forma de prestar contas. Os documentos são salvos em pen drives ou
chips de celular e entregues semanalmente por motoboys nas principais
prisões do Estado, onde entram clandestinamente.
"Referente às
planilhas, toda semana devem mandar para o 4º, 6º PV [pavilhões da
penitenciária Presidente Venceslau], as listas de empréstimos e a lista
de dívidas gerais", afirma trecho do relatório assinado por um "diretor"
que se identifica como Judeu, o responsável pela área financeira.
Nos arquivos constam ainda informações sobre parte do patrimônio do
grupo: 13 imóveis, 88 fuzis, 63 pistolas, 11 revólveres, oito dinamites,
67 carros (sendo três blindados), sete motos e um caminhão. Nessa
relação não estão os bens dos bandidos, como armas e carros pessoais.
O armamento que está nas planilhas fica sob a responsabilidade de
alguns integrantes. Por exemplo, quando é necessário cometer um roubo,
um criminoso pega um fuzil emprestado para o crime e depois o devolve.
Se perder a arma, contrai uma dívida com a facção no valor do
equipamento perdido.
Em março do ano passado, um criminoso
identificado como XT foi preso pela Rota sob suspeita de planejar a
morte de um policial. Dias depois, na casa dele a polícia apreendeu um
fuzil. Como a arma era do PCC, consta em uma das planilhas que ele
contraiu uma dívida de R$ 35 mil com a facção.
Editoria de arte/Folhapress
NECESSIDADE
Para o procurador Márcio Sérgio Christino (especialista em crime
organizado), embora haja o risco de apreensão por parte da polícia, o
registro e controle de informações por parte dos criminosos do PCC é uma
necessidade até para a subsistência da facção criminosa.
"Não é
questão de vaidade ou outra coisa. Eles precisam disso para manter o
controle. O líder que está preso hoje busca o controle total do que
acontece do lado de fora. Para isso, ele precisa necessariamente de uma
forma de comunicação. Quanto maior a organização, maior a necessidade de
informação. A comunicação é uma necessidade e, ao mesmo tempo, o ponto
fraco das organizações criminosas", disse Christino.
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