quinta-feira, 9 de junho de 2011

TRÁFICO ENTRE DETENTOS

ECONOMIA INTERNA. Operação desmantela tráfico entre detentos. Rede que nasceu em presídio incluía familiares e presos do semiaberto - MARIELISE FERREIRA | SOLEDADE, zero hora 09/06/2011

Uma rede de venda e distribuição de drogas no presídio de Soledade e nas ruas, comandada pelos próprios presos, foi desmanchada ontem por uma operação da Polícia Civil em três municípios do Estado. Batizada de Operação Corleone, em razão do envolvimento das famílias de detentos e do poder de um dos “mafiosos”, a ação atingiu 14 criminosos.

Aoperação da Delegacia da Polícia Civil de Soledade, Delegacia Especializada de Furto, Roubos e Capturas (Defrec) de Passo Fundo e Departamento Estadual de Investigação do Narcotráfico (Denarc) de Porto Alegre envolveu 60 policiais civis, militares e rodoviários. Eles cumpriram simultaneamente mandados de prisão e de busca e apreensão em Soledade, Passo Fundo e Santa Cruz do Sul. Em Passo Fundo cinco pessoas receberam voz de prisão preventiva, incluindo um homem que já cumpria pena no presídio da cidade e havia sido transferida há um dia do Presídio Estadual de Soledade.

Em Soledade, foram oito mandados de prisão, e apreendidas drogas e armas. Entre estes, quatro já eram detentos, dois no regime fechado e dois que cumpriam pena no regime semiaberto. Na cela em que ficava um dos principais mandantes do tráfico na cidade, os policiais encontraram crack, maconha e R$1,1 mil em dinheiro. Um homem que estava preso no presídio de Santa Cruz do Sul também recebeu novo mandado de prisão preventiva.

A investigação se estendeu por seis meses e revelou um esquema de distribuição de drogas dentro do presídio, envolvendo famílias inteiras. Escutas telefônicas ajudaram a polícia a monitorar a ação dos bandidos.

Delegado culpa o caos carcerário

Conforme o delegado de polícia de Soledade Sander Ribas Cajal, a fragilidade na segurança dos presídios fomenta o crime. Com capacidade para 90 presos, o presídio de Soledade abriga hoje 250 detentos.

– O sistema carcerário está um caos, nestes seis meses que durou a investigação, a polícia fez revistas, apreendeu celulares e no dia seguinte tinham novos aparelhos, trocavam os chips e continuavam a traficar – salienta Cajal.

Uma das mulheres que participava do esquema, de 23 anos, foi presa quando entrava no ônibus para seguir ao Presídio de Soledade. Em revista íntima, a polícia encontrou cerca de 100 gramas de droga – o suficiente, segundo Cajal, para fazer 430 pedras de crack que seriam vendidas no presídio e nas ruas da cidade.

Como Funcionava

- Dois traficantes de Passo Fundo eram responsáveis por enviar a droga para o presídio de Soledade. Mulheres levavam a droga no corpo e entregavam para o preso que comandava o tráfico.

- O preso vendia a droga dentro do presídio e dali também repassava maconha, cocaína e crack para serem vendidos nas ruas. Em consórcio, detentos do regime semiaberto aproveitavam o horário em que deviam estar trabalhando para vender a droga nas ruas e depois prestavam contas ao chefe, no presídio.

- O procedimento envolvia famílias inteiras, dentro e fora do presídio, semelhante à máfia italiana. No presídio o chefe da “máfia” tinha grande influência e coagia os presos a participarem do esquema. Os envolvidos mantinham até outros presos como seguranças nas celas, para sua proteção.

- Em Santa Cruz, outro preso, sabedor das atividades, usava um irmão detento em regime semiaberto do Presídio de Soledade para vender drogas nas ruas e repassar ao chefe o lucro.

- As encomendas aos traficantes eram feitas por celular, de dentro do presídio, trocando diariamente o chip para evitar rastreamento.

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