ZERO HORA 02 de outubro de 2013 | N° 17571
BRUNA SCIREA. Colaborou Eduardo Rosa
Celular via aérea para o Central
Agentes da Delegacia de Capturas prenderam um homem e uma mulher com pombos que transportariam telefone para cadeia
O pombo lançado na tarde de ontem em direção ao Presídio Central, em Porto Alegre, não teve forças para voar. Um celular atado junto ao corpo impediu que o animal cumprisse a missão proposta por Cristielli Mansa, 21 anos: enviar o aparelho ao namorado, Wagner Machado Rodrigues, 19 anos, preso por tráfico de entorpecentes.
Três metros de voo após o lançamento ao alto, a ave caiu sobre a calçada da Rua Tenente Camargo, nos fundos do Presídio Central, às 16h15min – justamente no horário em que passava pelo local uma viatura da Delegacia de Capturas do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
Para sorte do animal – e azar de Cristielli –, os policiais estranharam o voo fracassado. A equipe deixou a viatura e foi ao encontro da jovem, que trazia outra ave imobilizada em uma garrafa PET, de fundo cortado. Atadas às asas do animal, estava uma “mochilinha” com um bateria, chips e R$ 427.
Presos em flagrante, Cristielli e o homem que a acompanhava, Jeferson Sidnei Lopes da Silva, 35 anos, são moradores do bairro Restinga e não tinham antecedentes criminais.
– A dupla cometeu dois crimes: tentar introduzir um telefone em um sistema prisional e maus-tratos de animais. Como se trata de um termo circunstanciado, serão liberados. São infrações penais com menor potencial ofensivo – afirmou o titular da Delegacia de Capturas, delegado Eduardo de Oliveira Cesar.
Juiz da Vara de Execuções Criminais (VEC), Sidinei Brzuska afirma que tentativas como a de Cristielli são possíveis graças à grande quantidade de aves que estabelecem ninhos nas dependências do presídio.
– Essas pombas fazem do Central a sua casa e, por isso, retornam sempre àquele lugar. Sabendo disso, o preso pega a ave e dá para um familiar, que sai da prisão com o pombo em uma sacola. Do lado de fora, a ave recebe o material que deve transportar e, ao ser solta, tenta voar de volta para sua casa – explica o juiz.
Visitantes não são revistados na saída de galerias, diz juiz
De acordo com Brzuska, visitantes não são revistados ao deixarem a instituição. Conforme o delegado do Decap, Cristielli visitou o namorado na tarde de ontem, quando provavelmente combinaram a ação. A jovem, no entanto, alegou que só se pronunciaria em juízo.
Diretor do Presídio Central, o tenente-coronel Osvaldo Luis da Silva afirma que não tem conhecimento de ninhos de pombos dentro da casa de detenção. Sobre a penalidade a quem tenta “importar” celulares por meio de pombos, o diretor diz que varia de caso a caso, podendo acarretar desde a transferência até a suspensão da visita.
Para Brzuska, além da crueldade, o voo de um pombo até o Central chega a ser “folclórico” diante das apreensões dentro da prisão.
Os animais seriam soltos após passarem pela inspeção de policiais da Delegacia Ambiental.
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