sexta-feira, 4 de outubro de 2013

DÍVIDA É PAGA COM A VIDA


DIÁRIO GAÚCHO 03/10/2013 | 07h53

Dívida é paga com a vida no Presídio Central, em Porto Alegre. Ser devedor das facções ao sair do local é um atestado de morte


Conforme o levantamento do Diário Gaúcho, até agora, 70% das vítimas de homicídios na Região Metropolitana neste ano têm antecedentes criminaisFoto: Ronaldo Bernardi / Agencia RBS


Eduardo Torres


Em um estilo diferente das facções que comandam o crime no Rio de Janeiro e em São Paulo, as relações das organizações gaúchas quase não têm elementos ideológicos. São pautadas pelo interesse financeiro, multiplicado à medida em que o Presídio Central permanece superlotado.

Conforme o Diário Gaúcho mostrou na reportagem de ontem, uma galeria do Central dá um lucro que pode chegar a mais de R$ 50 mil por mês. As dez dominadas por facções, portanto, somam R$ 500 mil mensais. Quem entra para uma delas, vira contribuinte e, acima de tudo, um devedor.

- E quem deve, tem que pagar - resume o juiz Sidinei Brzuska, da Vara de Execuções Criminais (Vec) da Capital.

Cobrança nas ruas e na cadeia

Não são raros os pagamentos com a vida. Conforme o levantamento do Diário Gaúcho, até agora, 70% das vítimas de homicídios na Região Metropolitana neste ano têm antecedentes criminais. Boa parte desses crimes é resultado das cobranças de dívidas contraídas na cadeia. Mas não é só nas ruas que as cobranças acontecem.

Há duas semanas, um detento entrou no HPS com morte cerebral. Era um dos presos de uma galeria dominada pelos Bala na Cara. Usuário de crack, ele teria sido condenado à morte por dever R$ 15.

Uma morte que não deixa marcas

Não havia sinais de violência no corpo. A suspeita, que só poderá ser comprovada pela perícia, é de que tenha sido vitimado por um método que ganha espaço no Presídio Central: a morte por overdose.

Ele é, provavelmente, conforme a fiscalização dos presídios, a quarta vítima desse tipo no Central só neste ano. Duas delas, cometidas pelos Bala na Cara.

O juiz Sidinei Brzuska tem convicção de que o preso teve a overdose induzida, violentamente. Para servir de exemplo, os donos da galeria teriam lhe enfiado uma grande quantidade de crack goela abaixo.

A overdose não deixa marcas aparentes de violência e evita, ao menos imediatamente, uma reação do poder público contra o poder das facções.

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