FOLHA.COM. 23/08/2014 03h00
Luiz Caversan
Desculpe começar logo com um lugar comum, mas paisinho bem louco este nosso, não?
O ex-doutor finalmente capturado (sim, temos policiais eficientes também...) diz que não é nada disso, que aquelas 50 e tantas mulheres mentem ou exageram, que ele é incapaz de fazer mal a quem quer que seja, que é apenas um idoso que gosta de Mercedes Benz pretas, um absurdo ficar na cadeia até morrer, 250 anos é um quarto de século, caramba!
A mocinha de cabelos claros e cara de anjo já não é mais tão mocinha assim, mas ainda mantém no semblante angelical algo de puro; pura desfaçatez, talvez, porque afinal planejou e ajudou a matar de maneira torpe e nauseabunda, sem jamais ter negado isso, papai e mamãe.
Os dois têm nomes complicados, que seriam apenas exemplos da nossa maravilhosa miscigenação e generosidade para abrigar raças e nacionalidades se não fossem ambos monstros, psicopatas.
Mas diferentemente de Roger Abdelmassih, que não quer ficar preso de jeito nenhum, Suzane von Richthofen recusou a progressão de pena que garantia a ela o direito de regime semiaberto, a possibilidade de ser, uma década depois e ainda que parcialmente, livre.
Ela não quer ser solta.
Ela tem medo das ruas.
Prefere permanecer no presídio onde, dizem, se tornou "referência" de liderança e bom comportamento.
Peraí, o médico não tem escolha, é claro, vai pro xilindró sob o aplauso das tantas mulheres que molestou e humilhou, mas a loirinha psicótica pode escolher ficar vivendo às custas do Estado indefinidamente?
Wall!, diria o velho e bom Paulo Francis, de quem poucos se lembram, mas que foi um brilhante jornalista que ficava sempre perplexo com este tipo de idiossincrasia bem brazuca, nossas jabuticabas.
Triste, mas verdadeiro: só a gente mesmo pra reverter o axioma cunhado pelo Nizan Guanaes, reproduzido na brava biografia dele lançada também esta semana pelo sempre bravo João Wady Cury: "Você não pode ser ginecologista e tarado ao mesmo tempo".
No Brasil pode.
No Brasil a nega, quer dizer, a loira mata pai e mãe e quer ficar no "Presídio de Caras" com seu coleguinhas transtornados. Sente-se em casa...
Sem ofensas a loiras, negas e transtornados em geral, trata-se aqui apenas de reforçar outro lugar mais do que comum ainda: definitivamente, o Brasil não é para amadores.
*
O livro de que falei acima, a biografia de Nizan Guanaes, goste-se ou não dele, um dos mais brilhantes publicitários desde sempre, é um trabalho bem bacana do João Wady Cury, meu chapa multiplataforma. Chama-se "Enquanto eles choram, eu vendo lenços", é da editora Agir e está à venda por menos de 30 pratas nas melhores casas do ramo. Diz-se que o Nizan não gostou muito do livro, eu gostei e ele, no fundo, deve ter adorado...
Luiz Caversan é jornalista e consultor na área de comunicação corporativa. Foi repórter especial, diretor da sucursal do Rio da Folha, editor dos cadernos 'Cotidiano', 'Ilustrada' e 'Dinheiro', entre outras funções. Escreve aos sábados.
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