PAULO SANT’ANA
O canal 40, Globo News, apresentou agora ao público brasileiro em geral um estafante e talentoso trabalho sobre a situação penitenciária no Brasil.
Chamou atenção o estudo detalhado das prisões gaúchas, não à beira, mas na profundidade do caos.
Uma vergonha.
*
Chegamos agora ao cúmulo: estamos livrando pessoas que deveriam estar presas por não termos onde colocá-las para cumprir suas penas.
E, quando eu advertia durante 40 anos de que a situação de caos dos presídios acabaria por tornar as ruas um inferno, ninguém ligou para minha advertência.
Até que chegamos a esta atualidade aterrorizante de hoje: convivemos em igualdade de condições, nas ruas e em torno de nossas casas, com criminosos soltos que tinham de estar presos. Mas não há lugar para mais ninguém nas prisões e então escolhem aqueles que viverão a liberdade quando a ordem e a lei imperativamente tinham de recolhê-los a presídios.
*
E o pior: os milhares de detentos que estão recolhidos às prisões no Rio Grande do Sul, em sua maioria, vivem em situação pior do que a de animais, haja vista a reportagem que se viu agora na Globo News.
As condições de higiene em que vivem os detentos do Presídio Central são abomináveis, sujeitos à sujeira mais pérfida e condenados assim pelas doenças a morrerem abandonados.
*
Todos os governos estaduais que se sucederam nos últimos 50 anos são culpados desse crime que se comete contra a sociedade.
Mas o interessante é que foi esta mesma sociedade gaúcha que licenciou todos esses governos a cometer essa sandice monumental e tropelia.
*
É o fim. E ninguém se envergonha desse fim. Seguem a vida como se não fossem responsáveis por este grave e continuado atentado aos direitos humanos.
Mas agora estourou. Agora a sociedade que sempre declarou que os detentos tinham é que morrer se vê atacada ou ameaçada pelo crime impune solto pelas ruas.
Durmo em paz como minha consciência: não resolvi coisa nenhuma, mas avisei, bradei, durante mais de 40 anos, para esse fim trágico que agora vivemos. Todos me foram surdos.
E eu nunca vi, nesses 40 anos, nenhum gaúcho, repito, nenhum gaúcho recusar-se a votar em alguém para governador ou deputado estadual e federal porque foi leniente ao caos carcerário. Por isso é que todos os eleitos passaram quatro décadas se omitindo, ninguém lhes cobrava, quando não os estimulava à pérfida desídia.
Nenhum fez nada.
E deu no que deu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário