segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

FUGA E DESCONTROLE

Imagens revelam fugas e descontrole durante um mês no presídio de Novo Hamburgo



RADIO GAÚCHA 28 de novembro de 2013
A verdadeira escalada da fuga. Enquanto a estatística mostra que a cada duas horas um preso escapa das cadeias gaúchas, imagens revelam o descontrole durante um mês nopresídio de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. A Reportagem da Rádio Gaúcha e daTVCOM passou quase 30 dias no local e flagrou em média dois presos por dia pulando o muro do Instituto Penal.
Campana
Dentro de veículos ou até mesmo passando pelas ruas no entorno da cadeia, a equipe fez campana no mês de novembro em frente ao Instituto Penal do município e gravou vídeos de diversas fugas.
* Veja o vídeo com o flagrante de diversas fugas de presos que saíram livremente para passear, fazer compras e ir em festas:
Como consumidores normais, os presos dos regimes aberto e semiaberto têm até hora marcada para ir às compras em um mercado próximo, sempre por volta de 9h30m e 15h30m. E nas sextas-feiras ou em véspera de feriados, o motivo da saída do presídio era outro. A reportagem também flagrou um apenado que pulou o muro, puxou o celular do bolso e falou ao telefone. Logo em seguida, duas mulheres em um carro apareceram para buscá-lo. Tudo em frente a vizinhos da cadeia ou em meio a pessoas que passavam pela rua. Em outro flagrante, também gravado em vídeo, a reportagem pode ver o malabarismo de um apenado para pular o muro com pelo menos cinco sacolas de compras. Em outro momento, um preso sobe a parede, fica sentado no local e retira parte de arame farpado.
Prisão de preso
Um dos apenados que pulou o muro acabou sendo detido pela Brigada Militar (durante quase 30 dias houve duas prisões verificadas pela equipe) e todas as compras que fez, como legumes, salsicha, frango, refrigerante, entre outras, foram apreendidas. Com 23 anos de idade, o preso disse que todo o dia alguém pula o muro, já que não gostam da alimentação fornecida na cadeia.
“Amanhã certamente alguém vai pular. Quando tapam o buraco que a gente abre na cerca, abrimos de novo. Todo mundo pula, quem não pula paga pra outro pular”, diz o preso.
Ações
Até junho deste ano, o Instituto Penal de Novo Hamburgo registava média de 20 fugas por mês, número oficial aquém do que a Reportagem pode comprovar de fato em novembro. Naquela época, houve a promessa de cercamento eletrônico, colocação de câmeras de vídeo e de alarmes. Mas o que se pode ver, cinco meses depois, foi um muro sem qualquer tipo de obstáculo e guaritas vazias.
Fugas
Mas este problema não é só em Novo Hamburgo, ocorre no Instituto Penal de Viamão, Charqueadas, Mariante e muitos outros. Em um levantamento de 14 anos do Ministério Público, foram registradas mais de 73 mil fugas, sendo cerca de 75% dos regimes aberto e semiaberto. Assim como no primeiro semestre deste ano, a média tem sido de uma fuga a cada duas horas das cadeias gaúchas.
No 1º semestre de 2013…
65 fugas do regime fechado
482 do aberto
1.983 do semiaberto
24 presos mortos
Ministério Público
O promotor Gilmar Bortolotto diz que estes dados denotam dos nossos presídios.
“Sem que a gente mexa nesse nó, sem que a gente procure de fato encarar de maneira corajosa esse problema, o que hoje, no meu modo de ver não se faz, não há nenhuma política, nenhum plano, nenhum projeto de segurança pública que vá dar certo”, relata o promotor.
Justiça
O juiz Sidinei Brzuska  destaca que o estado não pode mais pagar aluguel para quadrilha de traficantse, de ladrões e homicidas.
“O nosso semiaberto tem que acabar, da forma que ele está, está produzindo efeito totalmente contrário do desejado. O semiaberto que seria aquele, para fazer um elo de transição para o sujeito voltar à sociedade, está se tornando um principal fator criminógeno, das pessoas mais cometerem crime ali, quer dizer, isso tem que resolver”, diz Brzuska.
Susepe
O superintendente dos Serviços Penitenciários, Gelson Treiesleben, diz que todo o sistema falha quando se trata de semiaberto.
“É, então, eu te diri,a que o sistema prisional é parte de um sistema que falha e não somente o sistema prisional falha. É lógico que nós falhamos no momento que nós conseguimos cumprir com a integralidade do homem que está saindo para que ele não volte a delinquir”, relalta o superintendente.
De acordo com especialistas em segurança pública, enquanto não forem revistos o sistema carcerário e a legislação penal, situações como a do Rio Grande do Sul, que em 14 anos o número de fugas é duas vezes e meia maior do que a atual população carcerária (cerca de 28 mil apendos), a farra e o descontrole vão continuar ou aumentar.
Ouça a reportagem:
* Por Cid Martins, da Rádio Gaúcha, e Vanessa da Rocha, da TVCOM
* Vídeo editado por Nícolas Andrade
* Mais informações no programa TVCOM 20 horas.

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