Francisco de Araujo Santos, professor universitário - ZERO HORA 12/10/2011
As recentes notícias da prisão de Caxias do Sul me fizeram lembrar duas frases de Étienne De Greeff (1898-1961). Foram citadas por Jean Pinatel, seu discípulo e biógrafo, também já falecido. Pinatel considerava De Greeff o maior criminologista da língua francesa.
A primeira enfatizava a necessidade de “saber se comover diante da rea-lidade penitenciária”. A segunda prescrevia um modo de agir: “O prisioneiro deve ser tratado como um enfermo... num clima de simpatia”. Para que a ingenuidade e a inexperiência, aparentemente intrínsecas a esse modo de pensar, não distraiam o leitor, informo que Étienne De Greeff, médico, psiquiatra, formado pela Universidade de Louvain, foi, por mais de 30 anos, psiquiatra da Prisão Central de Louvain. O posto de psiquiatra de prisão tinha, por questões históricas, o curioso título de “médico antropólogo”. Mais tarde, em 1952, foi nomeado, pelo então ministro de Justiça da Bélgica, diretor do Departamento de Antropologia Penitenciária.
Teve escaramuças com as instituições administrativas das prisões, mas deixou seu legado e discípulos. Teve polêmicas amargas com o Judiciá- rio, talvez demasiado amargas. Invocando a lição de Louis Vervaeck, reivindicava para cada prisão de porte a presença de um psiquiatra com a devida autonomia. A aceitação de tal proposta exigiria uma profunda mudança de mentalidade.
Não digo novidade. Direta ou indiretamente, tenho lido coisa muito parecida em escritos de Marcos Rolim, especialmente sobre a necessária mudança de mentalidade. O problema é especificar e medir essa mudança. O caso de Caxias mostra que a mudança não pode ser só de arquitetura e de engenharia. O administrador de prisão tem que ser capaz de se sensibilizar frente aos seres humanos que tiveram uma desastrosa rota até chegar ali. Para dar a eles o trato de que necessitam, é preciso superar arraigados preconceitos. Esta a dimensão da necessária mudança de mentalidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário