Para novo diretor do Presídio de Joinville, é urgente resolver “desarmonia” entre agentes carcerários. Seis fugas e 23 detentos ainda foragidos apenas neste ano leva Deap a mudar direção; Euclides da Silva assume - Roelton Maciel, DIÁRIO CATARINENSE, 11/10/2011 | 08h19min
A cadeira na direção do Presídio Regional de Joinville mal havia esquentado quando uma intervenção planejada às pressas pelo governo estadual forçou novas mudanças na unidade nesta segunda. O diretor Simão Benício Marcellino, que estava há apenas 20 dias no controle do presídio, foi afastado definitivamente do cargo.
Ele ganhou férias de 30 dias e deve voltar à gerência da Unidade Prisional Avançada (UPA) de Barra Velha após o período. Apesar de garantir que a saída de Simão não é uma punição, o diretor do Departamento de Administração Prisional (Deap), Leandro Antônio Soares Lima, reconhece que a tentativa de fuga no sábado foi determinante para a mudança.
Presos de três celas na chamada cadeia velha serraram dois pedaços das grades das janelas, mas foram impedidos de escapar. Um dia antes, em plena tarde de sexta-feira, três internos fugiram – dois serraram a grade da cela cinco e pularam o muro com a ajuda de uma corda feita de lençol. Foi a sexta fuga deste ano. Na soma, 23 detentos continuam foragidos.
— A unidade dependia de uma reorganização após essas últimas fugas. O Simão fazia um grande trabalho em Barra Velha. Mas, diante dos problemas em Joinville, ele corria o risco de ficar estigmatizado como o diretor que permitiu tais fugas —, justifica o diretor do Deap, que assumiu o cargo no dia 5.
Entre os próximos 15 ou 30 dias, o Presídio Regional de Joinville ficará sob o controle de Euclides da Silva. Ele era gerente do presídio da Capital e havia assumido a gerência do Presídio Regional de Blumenau durante intervenção do Estado entre agosto e outubro.
— Já começamos um trabalho de remanejamento do pessoal. Também passamos a fazer um orçamento para verificar tudo o que existe de estrutura fragilizada —, destaca.
À primeira vista, Euclides diz ter percebido problemas de “harmonia” entre os agentes prisionais.
— Alguns profissionais estavam insatisfeitos por fazerem trabalhos que não eram da função —, afirma.
O ex-diretor Simão Marcellino conta que encarou com tranquilidade a conversa com o Deap, que trouxe o aviso da intervenção pela manhã.
— Entendi que era por causa das seis últimas fugas, e não pela única que ocorreu no meu comando —, conta.
Segundo ele, os agentes estão insatisfeitos principalmente pela falta de efetivo, que prejudica o trabalho interno e nas muralhas de vigia. Ele ainda avalia que as duas alas instaladas em conteineres não oferecem a segurança necessária.
— É muito fácil serrar as grades. Deveriam ser feitas de um material mais resistente.
“O problema está na harmonia”. Entrevista/Euclides da Silva - A NOTÍCIA DE JOINVILLE, 11/10/2011
A Notícia – Quais os planos para o período da intervenção?
Euclides da Silva – Começamos a remanejar pessoal. Também passamos a fazer um orçamento para verificar o que existe de estrutura fragilizada. O principal é a questão administrativa, porque ocorreram várias mudanças na direção em pouco tempo.
AN – A intervenção pode durar mais tempo do que previsto?
Euclides – Ninguém faz milagre de um dia para o outro. Pode ser que leve mais de um mês, mas trabalhamos com o prazo de 15 a 30 dias.
AN – O chefe de segurança Cristiano Teixeira será mantido?
Euclides – Eu não poderia chegar aqui e mudar a estrutura. Preciso ganhar a confiança dos profissionais da unidade. Depois, devemos fazer escolhas com base em perfil. Já tenho em mente uma pessoa que deve assumir a direção depois e, nesse meio tempo, vai acompanhar os trabalhos comigo.
AN – Que reforço haverá durante a intervenção?
Euclides – Ainda precisa ser avaliado, mas acredito que algo em torno de cinco agentes. O problema estava na harmonia entre os profissionais que trabalham aqui. Identificamos que estava faltando um pouco disso. Alguns profissionais estavam insatisfeitos por fazerem trabalhos que não eram da função. Já cuidamos disso.
“Quem manda é o departamento”. Entrevista/Simão Marcellino - A NOTÍCIA
A Notícia – Como foi a conversa com o Deap?
Simão Marcellino – Tranquila. Eles vieram (ontem) de manhã. Ficou claro para mim que era por causa das seis últimas fugas, e não pela única que ocorreu no meu comando. Quem manda é o departamento.
AN – Acha que em 15, 30 dias é possível resolver os problemas?
Simão – Há muito para fazer, é um presídio antigo. Não sei se vai ser fácil, não. É uma estrutura defasada. As pessoas acham que é possível tocar tranquilamente uma estrutura com 925 presos, mas não é. É muito preso, é uma cadeia superlotada (o presídio tem capacidade para 680 pessoas).
AN – O interventor citou “desarmonia” entre agentes. Viu isso?
Simão – Na verdade, o pessoal está revoltado com o número de agentes, que é insuficiente. Por falta de efetivo operacional e nas muralhas de vigia, ninguém tem tranquilidade para trabalhar.
AN – Que mudança precisa ser feita para o presídio funcionar?
Simão – A maioria das fugas ocorreu nas alas em conteineres (são duas: pavilhão 4 e 5). Dizem que são à prova de fuga, mas para mim não funcionam. É muito fácil serrar as grades. Deveriam ser feitas de um material mais resistente.
“Não é punição de forma alguma”. Entrevista/Leandro Lima - A NOTÍCIA
A Notícia – O que levou o Deap a decidir pela intervenção?
Leandro Lima – A unidade dependia de reorganização depois das últimas fugas. No fim de semana, tivemos ainda mais uma tentativa de fuga. Vai ser preciso parar todas as atividades e fazer um novo planejamento administrativo.
AN – Quais medidas serão tomadas imediatamente?
Leandro – Ainda precisamos identificar as fragilidades estruturais, as necessidades de contingente, o que está certo e o que está errado. Mas é certo que haverá reforço nas quatro guaritas sobre as muralhas. Há um agente em cada. Mas queremos pelo menos dois em cada guarita, principalmente à noite.
AN – O que motivou a saída do diretor Simão Marcellino?
Leandro – A intervenção não é, de forma alguma, uma punição para ele. Até porque o Simão fazia um grande trabalho lá em Barra Velha. Mas, diante dos problemas, ele corria o risco de ficar estigmatizado como o diretor que permitiu tais fugas. Como ele já tinha férias para tirar desde o ano passado, decidimos por dar esse descanso a ele.
AN – Depois das férias, ele volta ao presídio de Joinville?
Leandro – Não contamos com isso. Já estamos pensando em outro nome. O Simão deve retornar a Barra Velha.
Vigilância sobre os muros é prioridade - A NOTÍCIA, JOINVILLE.
As quatro guaritas por onde os agentes prisionais vigiam detentos estão na lista de prioridades para o reforço durante a intervenção. Apenas um agente trabalha em cada guarita por plantão. Como a volta dos policiais militares às guaritas está descartada pelo Deap – uma portaria estadual restringe o trabalho da PM em presídios – pelo menos quatro ou cinco agentes de outras unidades devem ser deslocados para exercer a função em Joinville nos próximos dias.
O processo licitatório para a contratação de empresa especializada em câmeras de monitoramento ainda está em aberto. As propostas das empresas interessadas só devem ser analisadas na próxima semana. Com o prazo legal para recursos, o presídio não deve contar com o monitoramento antes de um mês. O Deap prevê 16 câmeras.
Outro nome novo no Presídio Regional de Joinville também vem da Capital. Erli Hildo Martins trabalhava na escolta de internos da penitenciária de Florianópolis e foi deslocado para ajudar Euclides da Silva no processo de intervenção.
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