DIÁRIO GAÚCHO 17/02/2009 | 02h42
Motins confrontam mudanças no modelo do Presídio Central. Detentos reivindicavam menos rigidez em nova área da cadeia da Capital
por Francisco Amorim
À noite, presidiários usaram os problemas de falta de energia e água como pretexto para incendiar colchões e lençóis, em manifestação sufocada pela BrigadaFoto: Marcos Nagelstein
Na maior cadeia do país, o dia foi de confronto. Em funcionamento há 45 dias, o pavilhão J — a nova área do Presídio Central, que representa um novo modelo — registrou ontem o primeiro motim. Ao quebrar mesas do refeitório, os 68 presos tentaram intimidar a direção e instaurar à força as mesmas regras impostas por facções criminosas nas galerias antigas.
Seis horas depois, em nova revolta, os detentos de outros pavilhões, mais antigos, incendiaram colchões. Eles usaram a falta de energia e água como pretexto para o motim, que serviu para apoiar os pedidos dos presos do prédio J.
Contrariados com as regras mais rígidas impostas pela Brigada Militar, os detentos do pavilhão J começaram o primeiro protesto às 14h30min. Eles se recusaram a voltar para as celas após o banho de sol. Os presos tentaram impedir a aproximação dos policiais militares quando retornaram do pátio para o pavilhão. O grupo rebelado montou barricadas no refeitório, localizado no térreo do prédio, e ameaçou atear fogo em móveis.
— Eles queriam fazer pressão para que pudessem transitar livremente pelos corredores, como faziam em outras galerias. Queriam aquelas regalias que não vão ter nesse novo pavilhão — explicou o diretor do Central, tenente-coronel Jainer Pereira Alves.
Para controlar o tumulto, 20 PMs cercaram o refeitório e usaram balas de borracha para conter os detentos. Um interno foi ferido no pescoço e foi levado ao Hospital Pronto Socorro. O motim foi controlado em 15 minutos.
— Todos foram levados para as celas, depois de uma minuciosa revista — disse o diretor, que enfrentou seu primeiro motim desde que assumiu a casa no final de janeiro.
O superintendente dos Serviços Penitenciários, Paulo Zietlow, elogiou a ação da Brigada.
— Temos regras rígidas nesta nova ala do Central e nos novos presídios, como em Caxias do Sul, que desagradam aos detentos. Mas é uma questão de disciplina. Por isso, elas serão cumpridas — disse.
COMO É NO PAVILHÃO J
O novo pavilhão do Central tem um perfil diferente
> Cada cela abriga oito presos
> As celas permanecem fechadas durante todo o dia
> É proibido o trânsito de presos nos corredores, exceto em horários pré-determinados, como almoço, janta e banho de sol
> As galerias são controladas pela Brigada Militar
COMO É EM OUTROS PAVILHÕES
> Algumas celas abrigam mais de 30 presos, que permanecem abertas na maior parte ia dos pavilhões
> Presos podem transitar livremente pelos corredores de suas galerias
> As regras nas galerias são impostas por facções criminosas
> Um preso eleito controla a galeria
HISTÓRIA DE PERCALÇOS
Mesmo antes da inauguração, a nova área no Central já enfrentou obstáculos:
> Prevista para 2006, a inauguração dos quatro novos pavilhões só ocorreu em 19 de dezembro passado
> No dia 19 de janeiro, apenas 40 presos ocupavam parte do único pavilhão concluído. Os demais prédios teriam problemas de infiltração, segundo entrevista do diretor a ZH
> No dia seguinte, o Comando-geral da BM decide transferir Eden para o Estado Maior do Comando de Policiamento da Capital
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