VINICIUS SASSINE
O GLOBO, 14/12/12 - 23h15
Liberdade . Cachoeira ao deixar a penitenciária da Papuda: preso de novo, bicheiro conseguiu habeas corpus André Coelho/21-11-2012
BRASÍLIA — Citado em conversas telefônicas entre integrantes do grupo de Carlinhos Cachoeira, o presidente da Agência Goiana do Sistema de Execução Penal (AGSEP), Edemundo Dias de Oliveira Filho, ligou para o juiz que decretou a última prisão preventiva do bicheiro e pôs o sistema prisional em Goiás à disposição para receber o réu. O mandado de prisão foi expedido pelo juiz Alderico Rocha Santos, responsável pelo processo na Justiça Federal em Goiás, no último dia 7. Edemundo, que é delegado aposentado da Polícia Civil, antecipou-se ao magistrado e fez a ligação para dizer que “havia condições” para Cachoeira permanecer no estado, como confirmou ao GLOBO.
O delegado integra o primeiro escalão do governador Marconi Perillo e é tesoureiro do PSDB em Goiás. Perillo é investigado em processo no Superior Tribunal de Justiça (STJ) por supostas ligações com Cachoeira.
Na primeira vez em que foi preso preventivamente, no dia da deflagração da Operação Monte Carlo, o bicheiro foi levado para o presídio federal de segurança máxima em Mossoró (RN). Depois, obteve no Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região autorização para ser transferido ao Presídio da Papuda, em Brasília. Cachoeira ficou quase nove meses detido, sempre fora do sistema prisional em Goiás. A principal acusação contra o bicheiro, que resultou numa condenação de quase 40 anos de prisão, é de corrupção de agentes de segurança pública. Em função dessa influência em órgãos locais de segurança, ele foi mantido fora do estado no primeiro mandado de prisão preventiva.
Quando a Justiça decreta uma prisão, não é comum o estado oferecer uma vaga no sistema prisional. O usual é o juiz consultar a administração carcerária sobre a disponibilidade de vagas. Edemundo nega ter ofertado a vaga. O que fez, segundo ele, foi “ligar para dizer que havia condições de custodiar” o bicheiro.
— Liguei porque já era tarde, fim de semana e precisava saber se ele ia ficar ou não (em Goiás). Disse ao juiz que havia recebido a informação de que o réu poderia ficar aqui — disse Edemundo.
Secretário nega contato com Cachoeira
Na tarde de sexta-feira, dia 7 de dezembro, Cachoeira foi detido em casa e levado para a carceragem da superintendência da Polícia Federal (PF) em Goiânia. Depois de ser consultado por um delegado da PF, o juiz Alderico decidiu que Cachoeira permaneceria em Goiás. Ele foi levado para o presídio de Aparecida de Goiânia, cidade vizinha a Goiânia. Por força de um habeas corpus, o bicheiro conquistou a liberdade na última terça. Edemundo disse que não teve qualquer contato com o contraventor durante os cinco dias de detenção.
— Pela Lei de Execução Penal, o preso tem de ficar no estado onde cometeu o delito. Colocado no Núcleo de Custódia, ele ficou sob os cuidados do diretor. Eu cuido de questões macro — afirmou o delegado.
Conversas telefônicas usadas nas investigações da PF mostram que Cachoeira tentou interceder a favor de Edemundo no governo de Goiás. Segundo as transcrições, o bicheiro pediu um parecer favorável ao delegado na Procuradoria-Geral do Estado (PGE), por meio de um dos seus auxiliares, o ex-vereador tucano Wladimir Garcez. A CPI do Cachoeira cita esse episódio no relatório final. O pedido do bicheiro foi atendido na PGE, segundo o relatório. O relatório não pediu seu indiciamento. O presidente da AGSEP nega qualquer relação ou contato com Cachoeira e sustenta que o procedimento na procuradoria era “defensável do ponto de vista jurídico”.
O advogado de Cachoeira, Nabor Bulhões, diz que não estava preocupado com a “forma” da prisão de seu cliente, mas com a “liberdade” dele.
O GLOBO tentou falar com o juiz Alderico, mas ele não deu retorno às ligações.
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