quinta-feira, 7 de abril de 2011

DE DENTRO DO PRESÍDIO, PRESOS ORDENAVAM MORTES


A VOZ DO CRIME. Presos ordenavam mortes da Pasc. Segundo polícia, traficantes transmitiram, por celular ou durante visita íntima, lista de 20 desafetos marcados para morrer - LETÍCIA BARBIERI | SÃO LEOPOLDO. ZERO HORA 07/04/2011

Ao desvendar cinco assassinatos cometidos nos últimos meses, em São Leopoldo, a Polícia Civil descobriu que traficantes comandavam um grupo de extermínio de dentro da prisão que deveria ser a mais segura do Estado. Segundo os investigadores, os detentos da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) chegaram a elaborar uma lista com pelo menos 20 homens marcados para morrer, repassada durante as visitas íntimas ou por telefone celular. É mais um episódio que evidencia as fragilidades da prisão que deveria ser a mais segura do Estado.

Distribuída pelos bairros Feitoria, em São Leopoldo, e Canudos, em Novo Hamburgo, a lista contém nomes de inimigos e devedores de umas das principais quadrilhas em atuação hoje no Vale do Sinos. Cinco integrantes da facção conhecida como “Os Manos” foram indiciados ontem pelo delegado Alencar Carraro por crimes como os cinco homicídios e formação de quadrilha. Os agentes suspeitam que o grupo tenha ligações com o Primeiro Comando da Capital (PCC), em São Paulo.

– Eles já cumprem penas por crimes muito graves como assaltos e latrocínio e demonstram extrema frieza e periculosidade junto a comparsas muito bem articulados – observa Carraro, de São Leopoldo.

Diversos eram os motivos que levavam os nomes para as listas, mas todos relacionados ao tráfico de drogas. Conforme o delegado, primeiro eles eram avisados que se quisessem vender drogas teriam de comprar o crack e a cocaína vindos de São Paulo. Caso desrespeitassem o aviso, eram mortos. Consumidores endividados e quem não aceitava revender a droga também estava marcados.

– As listas foram distribuídas nos bairros e alguns deles viram seus nomes nelas. Outros morreram antes – detalha o delegado.

Polícia associa aumento de mortes à quadrilha

O bairro Canudos, o mais populoso de Novo Hamburgo, registrou pelo menos 18 mortes nos primeiros meses deste ano. Muitas delas, a Polícia acredita estarem ligadas à mesma quadrilha. Titular da delegacia responsável pelo bairro, o delegado Wagner Dalcin, resume:

– Eles estão tomando conta do bairro. Tomam bares e bocas de fumo e matam seus desafetos.

Não foi a primeira vez, nos últimos meses, que uma operação expõe falhas na segurança da Pasc. Em agosto passado, a Polícia Federal descobriu que, de dentro da penitenciária, o traficante Nei Machado mantinha o controle do tráfico. Segundo os investigadores, o traficante gaúcho se comunicava com seus subordinados por meio de outro preso da Pasc. Acreditando que não seria descoberto pelos agentes federais, Machado determinava a compra e a distribuição de droga por meio de seu comparsa, que repassava as ordens por celular. O então diretor Julio Cesar Souza Weigelt foi afastado do comando da prisão dois dias após a ação.

Adolescente seria um dos matadores

Ao investigar o caso, os policiais se surpreenderam com a idade do suspeito de ser um dos principais matadores do bando: 15 anos. Conforme o delegado Alencar Carraro, o adolescente, que é procurado pelos policiais, ganhou o respeito no bando pelo talento em executar os desafetos.

Morador do bairro Feitoria, de São Leopoldo, ele convive com essas pessoas. De família humilde, teve acesso e incentivo para estudar. Concluiu o Ensino Fundamental. Agora, pessoas próximas confirmam que ele tenha entrado para o mundo do crime. Segundo eles, o adolescente conheceu as drogas e caiu no crime.

– É altamente perigoso. Até os 18 anos vai provocar inúmeros estragos se não for apreendido, mas nós vamos pegá-lo. Não temos nenhuma dúvida de que ele participou ativamente das execuções. Por não terem experiência, não estarem acostumados a situação de estresse, são esses adolescentes que se tornam muito mais violentos nesta hora – diz o delegado.

Como agiria o grupo de extermínio, segundo a Polícia Civil:

De dentro da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), os líderes do bando ordenavam, por celular ou aproveitando-se das visitas íntimas, morte de desafetos.

Na rua, outros comparsas – um deles já está preso – executavam os crimes determinados pelos líderes do bando. Um dos suspeitos é um adolescente de 15 anos, ainda não foi localizado.

Para atemorizar os inimigos, os líderes elaboraram uma lista com
20 nomes de desafetos. Os motivos dos crimes estavam todos ligados ao tráfico de drogas. As vítimas morriam por serem concorrentes na região, por consumirem sem pagar ou até mesmo por se negar a vender.

A lista foi distribuída nos bairros Feitoria, em São Leopoldo, e Canudos, em Novo Hamburgo. Pelo menos cinco desses assassinatos forma mapeados pela 3ª Delegacia da Polícia Civil de São Leopoldo.

As vítimas da quadrilha, identificadas no bairro Feitoria morreram entre os dias 16 de dezembro e 10 de fevereiro. Eram todos homens na faixa etária dos 30 anos.

A Penitenciária de alta segurança de charqueadas (Pasc)é uma penitenciária onde cada preso fica isolado em uma cela, diferente das outras no Estado onde eles ficam em grupos. Com capacidade para 288 presos, abr iga atualmente 223 presos, os mais perigosos do Estado.

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