quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

AS PRISÕES ESTÃO NA UTI, MAS TÊM RECUPERAÇÃO


AS PRISÕES ESTÃO NA UTI, MAS TÊM RECUPERAÇÃO. Gelson Treiesleben, futuro superintendente da Susepe - JOSÉ LUÍS COSTA, Zero Hora, 23/12/2010

Dez dias após a confirmação dos nomes para a cúpula da segurança pública, o futuro governo do Estado anunciou o agente penitenciário Gelson dos Santos Treiesleben, 45 anos, para o comando da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe).

A demora se explica porque o novo governo queria um superintendente vindo de fora dos quadros da Susepe para assumir o mais delicado segmento da segurança. A Susepe enfrenta uma crise gigantesca: déficit de 12 mil vagas, um terço dos presídios e albergues interditados, além de 1,1 mil presos cumprindo pena em casa na Região Metropolitana por falta de espaço no regime aberto.

A ideia inicial era colocar à frente da Susepe um representante do Ministério Público. Como não surgiram candidatos, a opção foi confirmar o nome de Treiesleben, um dos servidores de carreira da Susepe mais ligado ao PT, mas que estava afastado do cotidiano da Susepe há oito anos, cedido para o governo federal.

Ontem, em sua primeira entrevista após o anúncio, Treiesleben afirmou que vai se empenhar para a ressocialização de apenados, combater as fugas do semiaberto e a corrupção.

A ENTREVISTA:

Zero Hora – O governo teve dificuldade para escolher o superintendente. Foram convidadas pessoas de outras instituições que não aceitaram. O fato de o senhor não ter sido a primeira opção lhe incomoda?
Gelson dos Santos Treiesleben – Não me sinto desprestigiado. Tenho uma relação de trabalho e de amizade com o secretário Michels de 12 anos. Venho participando desse processo de escolha desde o início. Nós vínhamos conversando, eu também era consultado sobre nomes. O secretário nunca pensou em mim longe do sistema prisional.

ZH – O fato de o senhor estar fora da Susepe há oito anos pode lhe trazer dificuldades?
Treiesleben – Não acredito. Quando você está no meio, você não consegue enxergar o ambiente externamente. E, nesse período, fiz consultorias para o Depen (Departamento Penitenciário Nacional), e pude fazer uma análise do quanto nós temos de melhorar e o quanto já melhoramos.

ZH– As prisões são consideradas o ponto mais crítico da segurança pública. Como o senhor encara esse desafio?
Treiesleben – A segurança pública é um ciclo, e o sistema penitenciário faz parte dele. O desafio é fazer o sistema exercer suas funções de fato, fazer o indivíduo que entrou retornar melhor para a sociedade, e não voltar a delinquir. Hoje o sistema falha devido à superlotação e por não ter uma individualização da pena. Todos os presos são colocados na vala comum.

ZH – O senhor acha que é possível ressocializar o preso?
Treiesleben – Gradualmente, sim. É lógico que não pode começar por todo o Estado. Tem de ser por projetos. A lei diz que o preso tem de ficar na sua comarca, próximo da família. É preciso colocar o preso de baixa periculosidade em um presídio de pequeno porte. Não haveria receios das pessoas.

ZH – O senhor concorda que as prisões são uma bomba-relógio prestes a explodir?
Treiesleben – O sistema requer cuidados excessivos. É um paciente em estado grave. Está na UTI, mas tem recuperação. Isso passa pela qualificação dos funcionários.

ZH – Recentemente, ocorreram denúncias do Ministério Público contra servidores, suspeitos de envolvimento em corrupção. Como enfrentar essa questão?
Treiesleben – O mau funcionário está do lado errado da grade. Eu abomino qualquer tipo de conduta ilícita de servidores. Não existe desculpa por causa de salário, é uma questão de conduta.
ZH – A corregedoria vai ser muito atuante?

Treiesleben – Com certeza. Tem de haver uma unidade em todos os departamentos para coibir esse tipo de desvios.
ZH – O atual governo já teve cinco superintendentes da Susepe. O senhor está preparado para ficar quanto tempo no cargo?

Treiesleben – Pretendo ficar o período completo de governo. Estou preparado para isso.

ZH – Em quanto tempo o senhor acredita que a falta de vagas nos presídios deverá ser solucionada?
Treiesleben – Não sei dizer quanto tempo será preciso. Mas, concordo com o juiz Sidinei Brzuska, não basta só criar vagas. Temos de trabalhar para que o preso não reincinda e retorne para a prisão.

ZH – Como evitar fugas do semiaberto?
Treiesleben – A lei diz que o semiaberto é um regime sem barreiras físicas. Falta fiscalização aos presos que saem, alegando que vão trabalhar. Existe, ainda, problemas de facções que provocam fugas. Com a separação dos grupos, se consegue diminuir as fugas.

ZH – Como evitar a entrada de celulares nas cadeias?
Treiesleben – É preciso detectores de metais e melhor controle de todas as pessoas que entram, tal qual quando chegam com uma arma.

GELSON TREIESLEBEN - Natural de Porto Alegre, Gelson dos Santos Treiesleben, 45 anos, é agente penitenciário desde 1990. Formado em Gestão em Segurança Pública e Privada pela Ulbra, trabalhou na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas, no Instituto Psiquiátrico Forense, e, em 1999, assumiu a direção do Departamento de Segurança da Susepe, seguindo na função durante os quatro anos do governo Olívio Dutra. Nesse período, o futuro secretário da Segurança Pública, Airton Michels, era o superintendente da Susepe. Cedido em 2003 para o Grupo Hospitalar Conceição, atuou como assessor da direção e também foi consultor do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), ministrando aulas para novos agentes.

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