terça-feira, 27 de abril de 2010

A MULHER DE CÉSAR


LEIA ESTE BRILHANTE ARTIGO DO HUMBERTO TREZZI, PUBLICADO NO JORNAL ZERO HORA DE PORTO ALEGRE/RS, DE 26/04/2010, TRATANDO SOBRE A REPORTAGEM MAGNÍFICA E REVELADORA DA CORRUPÇÃO NAS CADEIAS DO RIO GRANDE DO SUL.

A MULHER DE CÉSAR - HUMBERTO TREZZI

Após uma semana de devassas no sistema penitenciário propiciadas pela série Corrupção nas Cadeias, difícil apontar qual a mais chocante revelação feita pelos colegas de Zero Hora a respeito da rotina carcerária. Espanta a profusão de denúncias de corrupção, que só vieram à tona porque os jornalistas fizeram exaustiva pesquisa? Reparem que todas as denúncias já estão na Justiça, não são investigações em seu início...Talvez nem o próprio governo tenha uma ideia de quantos de seus servidores estão sob suspeita, no mundo subterrâneo que viceja atrás das grades.

As reportagens deixam claro que muitos presos são penalizados duplamente – com a prisão e com a extorsão. Há quem goste disso, dizendo que bandido deve mesmo é sofrer. Não custa lembrar que, acuado, um homem se torna fera. Quem vai defender a sociedade desses humilhados e extorquidos, quando saírem da prisão? Sem falar no fato de que, conforme as denúncias que proliferam na Justiça, muitos bandidos pagam a funcionários para sair e continuar seus crimes em liberdade. Quantas famílias foram atingidas por criminosos que deveriam estar cumprindo pena e estavam nas ruas, graças à liberdade comprada mediante propina?

Talvez o mais curioso seja o fato de que alguns dos principais cabeças da Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe) sejam suspeitos de praticar crimes. É claro que eles ainda têm a oportunidade de provar que tudo não passa de engano, difamação por parte de presos, equívoco dos promotores que os denunciaram. Mas não custa recordar um episódio da Roma Antiga: o governante Julio César se separou de sua mulher quando surpreendeu um homem na sua casa. Ao justificar a separação, o poderoso romano até disse confiar na esposa, mas declarou: à mulher de César não basta ser honesta, ela deve parecer honesta.

A LENDA

Públio Clódio Pulcro (Publius Clodius Pulcher) nasceu Cláudio, por volta de 92 a.C., mas por motivos políticos acabou por adoptar a versão plebeia do nome, Clodius. Este jovem patrício (condição de que abdicou, fazendo-se adoptar por um plebeu) tornou-se conhecido não só pela sua carreira política populista, mas também pelo comportamento por vezes excessivo. Um dos maiores escândalos em que se envolveu aconteceu em 62 a.C., quando, vestido de mulher, penetrou na casa de Júlio César, onde a mulher deste, Pompeia, celebrava os ritos da Bona Dea, nos quais a presença de homens era proibida. Disse-se que andaria envolvido com Pompeia, e que a entrada na casa teria por isso sido facilitada. Foi descoberto por uma escrava de Aurélia, mãe de César, e levado a julgamento por sacrilégio. Pompeia, por seu lado, foi repudiada. Conta Plutarco, que, tendo sido César chamado pela acusação para testemunhar contra Clódio, afirmou nada ter contra o jovem. Ao ser confrontado com o paradoxo - afinal tinha repudiado a mulher - César terá respondido que, apesar de convicto da sua inocência, preferia que sobre a mulher não recaísse qualquer suspeita.

FONTE: http://culturaclassica.blogspot.com/2006/10/expresses-mulher-de-csar-no-lhe-basta.html

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