quarta-feira, 24 de abril de 2013

COLÔNIA PENAL: DINAMITE, ASSASSINATOS E DESAPARECIMENTOS

ZERO HORA 24 de abril de 2013 | N° 17412

JANELA PARA O CRIME

DINAMITE ACHADA EM COLÔNIA PENAL. Dois quilos do artefato empregado por quadrilhas para explodir fábricas de joias e agências bancárias eram armazenados em galpão



Cenário de assassinatos, tiroteios e desaparecimentos, a Colônia Penal Agrícola, em Venâncio Aires, tornou-se conhecida por abrigar apenados que ostentam armas na cintura, falam ao celular como se estivessem em suas casas e pernoitam com prostitutas. Há 20 dias, porém, uma descoberta revela que o descontrole atingiu níveis inimagináveis: presos armazenavam dinamite – tipo de explosivo utilizado por quadrilhas que aterrorizam o Estado.

Uma inspeção encontrou dois quilos do artefato em um galpão. A Justiça proibiu o ingresso de presos por falta de segurança, mas a colônia ainda mantém 120 apenados.

– O fato de encontrar dinamite não surpreende. Faz parte do pacote de irregularidades – diz o juiz Sidinei Brzuska, da Vara de Execuções Criminais da Capital.

Há uma subversão da ordem. O controle estaria nas mãos dos presos. Em vantagem numérica – 120 detentos para sete guardas por turno, quando o ideal é 28 – os apenados usam armas, inclusive, deixando revólveres e pistolas atrás das goleiras quando vão para o campo de futebol.

A procedência é investigada pela Delegacia de Repressão a Roubos.

– Não há dúvida sobre a finalidade da dinamite (explodir bancos), mas está difícil descobrir a quem pertence. São muitos presos com muitas regalias no semiaberto – afirma o delegado Joel Wagner.

A utilização dos 99 hectares da Colônia é ínfima. No pátio, um trator apodrece. O que os apenados produzem é insuficiente para a subsistência: o Estado se obriga a comprar batatas, legumes e frutas para alimentar os detentos.

Autoridades dizem que presos “plantam gente”

O estabelecimento simboliza o fracasso da política de reinserção de apenados em colônias agrícolas, idealizada nos anos 1940.

– Lá (na Colônia), os “agricultores” plantam gente – ironiza uma autoridade da Justiça que conhece bem o local.

A frase se refere às execuções que se acentuaram nos últimos anos e provocaram interdições. Desde janeiro de 2010, 18 apenados foram assassinados – outros cinco estão desaparecidos com poucas chances de estarem vivos – em albergues sob jurisdição da Vara de Execuções Criminais (VEC) da Capital.

Deste total, 11 estavam em Venâncio Aires, a maioria foi mutilada e enterrada em covas rasas no entorno da colônia. Três detentos seguem sumidos. Por duas vezes, policiais civis fizeram escavações na região, mas não encontraram vestígios.

As últimas duas mortes aconteceram na véspera da Páscoa, quando um preso matou o outro a facadas. Em seguida, o matador foi executado, também a facadas. Motivo: a primeira morte teria irritado detentos de facção rival que estavam acompanhados de mulheres e a confusão atrapalhou os encontros íntimos.

JOSÉ LUÍS COSTA



O que diz a Susepe:

Conforme a assessoria de comunicação, os problemas em Venâncio Aires tendem a reduzir com a construção de uma nova penitenciária na cidade. Em oito meses deverá estar pronta uma cadeia com 529
vagas para o regime fechado e, na mesma área, cercada por muros, uma outra unidade para 150 presos do regime semiaberto. Assim, a atual colônia será desativada. A ideia de alugar um prédio para funcionar como albergue, em Campo Bom, no Vale do Sinos, foi  abandonada por causa de rejeição da comunidade local. A Susepe procura outros prédios na Região  Metropolitana.



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