quarta-feira, 4 de maio de 2011

POR CELULAR, PRESO DENUNCIA AGRESSÕES NA CONTENÇÃO DE REBELIÃO


Prostesto à noite na Agronômica - ALESSANDRA TONIAZZO- DIÁRIO CATARINENSE, 04/05/2011

As batidas sincronizadas nas celas do Complexo Penitenciário de Florianópolis deram início a um protesto com canecas e gritos, que acabou em uma operação policial imediata.

O efeito dominó do barulho fez com que tiros de bala de borracha fossem disparados contra os detentos, na tentativa de manter o controle.

Quando o clima estava tenso, a Avenida Lauro Linhares, no trecho em frente ao complexo, permaneceu interditada por 20 minutos. Apenas viaturas com sirenes ligadas eram autorizados a passar.

Caminhões do Corpo de Bombeiros e ambulâncias chegavam para ficar de prontidão. O helicóptero da Polícia Civil sobrevoava a região em busca de possíveis fugitivos.

O cheiro de gás era forte e, a todo momento, policiais fortemente armados entravam e saíam pelo portão principal. Às 22h de ontem, duas horas depois do começo da manifestação, a situação estava totalmente controlada. A tentativa de rebelião não passou de um susto. Não houve fuga e ninguém ficou ferido.

A secretária da Justiça e Cidadania, Ada De Luca disse que foi uma agitação de presos. Uma revista completa será feita na manhã de hoje em todas as celas.

Desde segunda-feira, os presos já faziam greve de fome no complexo e em pelo menos outras cinco prisões catarinenses. Seria um protesto contra maus-tratos a presos de São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis.

O diretor da penitenciária da Capital, Joaquim Valmor de Oliveira, negou a morte. Ele disse que uma investigação vai apurar os reais motivos do protesto.


Preso usa celular de dentro do complexo prisional de Florianópolis para denunciar agressões. Detento contou a situação ao repórter - Diogo Vargas - Diário Catarinense e Zero Hora online, 04/05/2011

Uma greve de fome está sendo feita por presos desde segunda-feira nas prisões catarinenses. Na noite desta terça-feira houve uma rebelião no complexo prisional da Agronômica, em Florianópolis, segundo o Centro de Operações da Polícia Militar.

A secretária da Justiça e Cidadania, Ada De Luca, negou e disse que foi uma agitação de presos.

Às 20h30, enquanto acontecia o incidente, um detento ligou de dentro do complexo para a redação do DC e conversou com o repórter Diogo Vargas.


Diário Catarinnense: Como está a situação aí?

Detento: A situação tá bem complicada senhor. Eles tão espancando vários presos senhor.

DC: Quem está espancando?

Detento: A polícia e os agentes.

DC: Agora?

Detento: Agora, agora. Escuta aí os tiros aqui ó. Escuta, vai ouvir

DC: Tô escutando (dois estrondos e gritos). Alô, tem preso baleado?

Detento: Tem, tem, machucado, que tão apanhando ali na frente. Quem tá apanhando é os presos. Tão dando tiro e espancando todo mundo. Não sei se vocês tão sabendo, em São Pedro de Alcântara a polícia invadiu lá final de semana e matou preso, a Bope. Então eles entraram em greve de fome e nós como um gesto de solidariedade a eles paremo também na greve de fome. Mas pacífica, entendeu? Só paremo de comer, agora eles vieram de noite, invadiram e tão espancando todo mundo.

DC: Que horas foi esse incidente?

Detento: Agora, agora. (20h30). Faz 15 minutos.

DC: Tás falando de qual penitenciária?

Detento: Aqui de Florianópolis. Não tô na penitenciária. Eu tô na cadeia pública (Presídio Masculino).

DC: Da Trindade?

Detento: Isso. Eles tão invadindo e quebrando tudo lá em cima.

DC: Qual é a reivindicação de vocês?

Detento: Nós não tamo reivindicando nada. Só paramo de comer na greve de fome porque a Bope invadiu São Pedro no sábado e matou preso, entendeu? É os presos de lá que tão fazendo a reivindicação para derrubar o Adércio (diretor do Deap).

DC: Teve morte de preso lá no sábado?

Detento: Matou os presos sábado.

DC: Quem matou?

Detento: A Bope e os agentes de São Pedro de Alcântara, mas ele tão abafando tudo. E por isso que o Estado todo de Santa Catarina tá se mobilizando, as cadeias, e fazendo a greve de fome entendeu? Tá escutando? (barulho de tiro).

DC: É algo isolado ou alguma facção?

Detento: Não, é algo isolado. É porque é o seguinte: nós quer tirar esses cara que tão espancando os presos. Tamo em prol de melhoria e contra covardia. Nós somo preso mas tamo pagando a nossa pena, entendeu? Não é algo de facção, mas sim a população carcerária em geral que não tá mais aguentando isso, as tortura que estão havendo na administração do Adércio e do Carlos (diretor de São Pedro). A sociedade não vê isso porque tão abafando. Um monte de família vão falar isso também.

DC: Qual é a situação nesse momento?

Detento: Se vocês vierem aqui vocês vão ver. É que a gente não tem acesso aqui. Só passa na frente da cadeia que vocês vão ver.

DC: Mas tem preso ferido?

Detento: Tem preso ferido, machucado.

DC: Quantos?

Detento: Quantos não temos noção, mas tem.

DC: Teve confronto ou não.

Detento: Não tem confronto. Nós tamos dentro dos barracos.

DC: Tás preso há quanto tempo aí?

Detento: Oito meses.

DC: Como é essa comunicação que vocês tem?

Detento: Tenho só esse aqui mesmo (celular). Ó, tem até helicóptero aqui agora (barulho da aeronave).

DC: Tá sozinho na cela?

Detento: Tá eu e mais sete.

DC: Na tua cela não teve nada?

Detento: Aqui não.

DC: Tu és algum líder?

Detento: Não, não sou ninguém. Sou apenas mais um reeducando senhor. Eles falam tantas coisas da facção, mas não existe isso aí, entendeu?

DC: Por que tá havendo essa 'covardia' então?

Detento: Porque eles são covardes, é isso. Eles não sabem administrar. E agora parece que o Adércio perdeu o cargo e tá acontecendo tudo isso.

Nenhum comentário: