quinta-feira, 6 de novembro de 2014

UÉ, MAS A SEGURANÇA NÃO É MÁXIMA NA PASC?



DIÁRIO GAÚCHO E ZERO HORA  06/11/2014 | 10h31


Humberto Trezzi


Sistema penitenciário. Repórter especial comenta sobre ação de organização criminosa comandada pelo assaltante Seco de dentro da cadeia



Portas de metal nos corredores dos pavilhões que atuam de forma estanque: quando uma abre, a outra fecha. Mais de 20 câmeras de TV monitorando, via circuito fechado, os caminhos internos. Guaritas externas de uma altura considerável, para melhor observar os presos. Muro interno, cercas de arame farpado, muro externo, tudo para dificultar fugas. Escassa comunicação entre os vizinhos de cela - que, aliás, nunca estão lotadas, raridade em grandes presídios brasileiros.

Cada cela tem duas grades, uma na porta e outra por fora desta, tornando difícil ao preso serrá-las. Esses eram os predicados iniciais da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), que deveriam justificar seu nome.

Deveriam, mas não justificam, a se julgar pela minuciosa operação desencadeada pela Polícia Civil, a Trinca-Ferro (esta, sim, apropriadamente denominada...o apelido lembra um pássaro que, apesar de engaiolado, não deixa de voar).

Foi em 1999 que a primeira fuga da Pasc aconteceu. O assaltante Cláudio Adriano Ribeiro, o Papagaio - um dos pioneiros em roubo de carros-fortes no Estado - escapou. Dizem que por uma grade de janela serrada, às vistas dos guardas. A Justiça Criminal de Charqueadas condenou 17 policiais militares pela escapada. Concluiu que eles foram negligentes, ao não vigiar com cuidado o preso.

O diretor da Susepe (Superintendência de Serviços Penitenciários) na época da fuga de Papagaio era Airton Michels, o atual secretário da Segurança Pública. Agora, mais um assaltante de blindados, José Carlos dos Santos, o Seco, é indiciado por burlar a vigilância da Pasc. Não fugiu, mas comandaria o crime de trás das grades.

Como? É um grande mistério. A Pasc tem detectores de metais de dois tipos: raquete (portáteis) e portão de raio X. Como os celulares continuam passando para os detentos? Desafio que a cúpula da segurança precisa esclarecer.

Operação nesta manhã prendeu comparsas de Seco:



Foto: Ronaldo Bernardi/Agência RBS


Quadrilha comandada por Seco de dentro da Pasc é presa. Organização criminosa, articulada dentro de celas, teria roubado mais de 200 veículos neste ano

por Eduardo Rosa. Atualizada em 06/11/2014



A liderança da organização criminosa recai sobre José Carlos dos Santos, o Seco Foto: Ronaldo Bernardi / Agencia RBS


Uma ação do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) contra roubo e furto de veículos prendeu, na manhã desta quinta-feira, 16 pessoas. Resultado de 11 meses de investigação, a Operação Trinca Ferro cumpriu 29 mandados de busca e apreensão e 24 mandados de prisão em 17 cidades da Região Metropolitana, dos vales do Sinos e do Caí e do centro do Estado. Neste ano, o bando teria roubado mais de 200 veículos.


Conforme a Polícia Civil, a liderança da organização criminosa recai sobre José Carlos dos Santos, o Seco, que comandava o grupo de dentro da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). Seco chegou a ser um dos criminosos mais procurados do Rio Grande do Sul após espalhar pânico ao utilizar caminhões para abalroar carros-fortes em rodovias. Desde 2006, está preso.

De acordo com o delegado Juliano Ferreira, titular da Delegacia de Repressão ao Roubo de Veículos, foram identificados cerca de 200 roubos e furtos de carros e caminhões praticados pelo grupo. De dentro da cadeia, Seco enviava ordens a seus comparsas por telefone.

— Verificamos que o Seco é muito vinculado ao tráfico de drogas, inclusive com os "Bala na Cara" (facção que atua no ramo), com quem fazia contatos seguidos. Qual era a ideia? Quem sabe, se tornar fornecedor. Era uma atividade muito intensa, com muito dinheiro — explica o delegado.

Parte dos veículos era enviada para Santa Catarina, Paraná e Paraguai, onde podiam ser trocados por dinheiro e por drogas. Também serviam para Seco pagar seus comparsas, aponta a Polícia Civil.

— Foi uma árdua e complexa investigação, que começou em novembro do ano passado com a prisão do Alemão Ramires (Ramires da Costa), um dos maiores clonadores de veículos, além de ladrão — acrescenta Ferreira.

A mulher de Seco, Adriana da Silva Santos Moraes, foi presa em Montenegro — ela é apontada como braço direito do criminoso. Seco chegou à sede do Deic, em Porto Alegre, por volta das 10h30min. Ele prestará depoimento e retornará para a Pasc.

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