terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

SEGUNDA FUGA EM 7 MESES EXPÕE FRAGILIDADE DA SEGURANÇA NAS PASC


Em xeque. No domingo, detento trocou de lugar com o irmão dentro da cadeia sem ninguém perceber - Francisco Amorim e José Luís Costa - zero hora, 14/02/2012 | 03h21


Ao trocar de lugar com o irmão que o visitava no domingo, o ladrão de bancos Michel Bonotto, 31 anos, expôs a fragilidade da cadeia que abriga os presos mais perigosos do Rio Grande do Sul, a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).

Não há superlotação. As 288 vagas da Pasc são ocupadas por 230 presos, controlados por 140 agentes. Mesmo com um moderno detector de metal à disposição, celulares são usados para comandar quadrilhas à distância.

— No mínimo, o que se passa lá é incompetência, mas não posso descartar a corrupção. Não se pode admitir, em penitenciária de segurança máxima, visitas nas próprias celas — avalia o juiz substituto da Vara de Execuções Criminais de Porto Alegre, Alexandre de Souza Costa Pacheco.

Para o promotor de Justiça Luciano Pretto, da Promotoria Especializada de Controle e Execução Criminal, concessões como as visitas de familiares nas celas decorrem da incapacidade de o Estado controlar o interior dos presídios. Para ele, faltam “equipamentos, pessoas e treinamento”.

A Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) determinou a intervenção da Pasc. Foram afastados temporariamente o diretor da cadeia, Renato Gomes de Oliveira, e o chefe da segurança, Juliano Vargas, e aberta uma sindicância.

Em circunstâncias ainda não esclarecidas, Michel passou sem ser reconhecido por cinco postos de controle. Ele fugiu pela porta da frente como se fosse o irmão, Richely, 29 anos e 20 centímetros mais baixo.

Descoberto na cela do irmão mais velho, Richely alegou ter adormecido e acordado com o cabelo raspado. Na verdade, emprestara uma peruca ao irmão apenado. Conforme o superintendente em exercício da Susepe, Mário Pelz, a “falha mais grave” foi Michel não ter passado pelo equipamento biométrico que analisa impressões digitais dos visitantes na entrada e na saída da Pasc.

Três corregedores da Susepe foram designados para esclarecer o episódio. Segundo Pelz, apurações preliminares descartam a conivência de agentes. A hipótese mais provável seria “erros de procedimento”. A fuga de Michel joga por terra quatro meses de investigação. Entre agosto e dezembro passados, ele foi caçado pela suspeita de assaltos a bancos no Litoral Norte.

— A decepção e a revolta são grandes pelo trabalho perdido — comentou um agente da Delegacia de Repressão a Roubos do Departamento Estadual de Investigações Criminais, que pediu para ter o nome preservado.

Procurado por ZH, o secretário da Segurança Pública, Airton Michels, silenciou. Por meio de assessoria, informou que o assunto seria tratado pela Susepe. Em junho, quando Sandro Alexandre de Paula serrou uma grade e fugiu da Pasc (ele seria recapturado no dia seguinte), Michels admitiu falhas e declarou que o episódio mais parecia “de uma delegacia de polícia da metade do século passado”.

Falsidade ideológica. Homem que facilitou fuga de irmão pode pegar até sete anos de cadeia. Richely Bonotto diz que pegou no sono na cela do irmão, que fugiu usando sua peruca - 13/02/2012 | 18h59

O suspeito de ter se passado pelo irmão para facilitar uma fuga da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) pode ser condenado a até sete anos de cadeia. Nesta segunda-feira, a Justiça converteu a prisão em flagrante de Richely Bonotto, 29 anos, em prisão preventiva. Ele já tinha ficha criminal por assalto e agora vai responder por falsidade ideológica, com pena de um a cinco anos, e por facilitar a fuga do irmão, com pena de seis meses a dois anos. Michel, de 31 anos, também vai responder por falsidade ideológica.

Os dois irmãos que trocaram de lugar durante uma visita na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) usaram uma peruca para confundir os guardas. Richely teria entrado com o utensílio na Pasc e o entregue ao irmão, que fugiu pela porta da frente.

Nas câmeras da penitenciária, Michel, que estava de cabeça raspada, aparece com uma vasta cabeleira quando saiu do presídio. Os irmãos também teriam apostado na grande semelhança física para ludibriar os servidores.

Antes de chegar até a cela do irmão, Richely passou por pelo menos cinco postos de vigilância. Nos pontos, foi coletada a assinatura dele e as impressões digitais. Os dois irmãos ficam sozinhos por cerca de duas horas na cela, quando trocaram as vestes e a peruca. Depois, Michel passou pelos pontos de controle usando a carteira de habilitação do irmão e falsificando a assinatura. Por falha da segurança, em nenhum momento do percurso de saída Michel foi submetido ao controle por digitais.

À polícia, Richely ele alegou que acabou adormecendo na cela do irmão, sendo acordado somente pelos agentes penitenciários, que então o identificaram como visitante.

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