REVISTA ÉPOCA ENTREVISTA - 01/10/2011 00h08 - Atualizado em 01/10/2011 00h24
Jarvis Chimenez Pavão: “Dominei, trafiquei e ganhei dinheiro”
Preso em Assunção, o megatraficante continua, segundo a PF, a controlar o envio de drogas para o Brasil. Ele diz que o Paraguai virou um território livre para o narcotráfico
HUDSON CORREA, ASSUNÇÃO
O DONO DA CADEIA
Pavão, atrás das grades na penitenciária de Tacumbu. Lá, ele é tratado como celebridade por pagar advogados e comida para outros detentos (Foto: divulgação)
Conhecida como “cemitério dos vivos”, a penitenciária de Tacumbu, em Assunção, capital do Paraguai, foi construída para abrigar no máximo 1.200 presos, mas confina 3.300. Os muros com mais de 5 metros de altura intimidam. As instalações do presídio e os corpos esquálidos dos detentos lembram um campo de concentração. Não há celas, camas nem refeição para todos. Dezenas acampam no pátio em barracas improvisadas com cobertores. Comer, em muitos casos, só quando os parentes levam algo. ÉPOCA entrou em Tacumbu para entrevistar o brasileiro Jarvis Chimenez Pavão, de 43 anos. Na tarde do sábado 17 de setembro, o advogado João Manoel Armoa, defensor de Pavão, caminhou calmamente até o portão principal sob uma chuva fraca. Dois minutos depois, acenou para equipe de ÉPOCA se aproximar. Após cruzar um pequeno pátio e subir alguns lances de escada em caracol, a reportagem encontrou Pavão. Ele almoçava com a família e pediu um tempo para terminar a refeição. Logo depois, sentado atrás da mesa de uma das salas administrativas de Tacumbu, mandou servir refrigerantes aos visitantes. Contou que paga advogados e distribui alimentos aos presos menos favorecidos. Guardas da prisão e detentos dão a impressão de respeitá-lo como celebridade. Nascido em Mato Grosso do Sul, ele fugiu para o Paraguai há 11 anos, ao ter a prisão decretada no Brasil. Só foi capturado em dezembro de 2009. Eis o que ele falou:
ÉPOCA – Segundo a Polícia Federal, o senhor continua envolvido com o tráfico.
Jarvis Chimenez Pavão – Não é verdade. Pendurei as chuteiras no fim de 1999. É perseguição. Por quê? Porque sou sincero. Nunca neguei que fui traficante. Eles (policiais) não conseguiam me pegar. Se eu for condenado pelas coisas que devo, tranquilo. Agora, o que não quero é ser condenado por aquilo que não devo. Aquilo (as acusações de que mantém ligação com o tráfico)está claramente montado por um órgão como a Polícia Federal. Quando eu estava em Balneário) Camboriú (SC), já era perseguido pela Polícia Federal de Itajaí (SC), que comanda a região. Esse foi realmente o reduto que dominei mesmo, que trafiquei, que ganhei dinheiro, entendeu?
ÉPOCA – Quanto o senhor ganhou?
Pavão – Isso aí são coisas que a gente não comenta
ÉPOCA – A PF também o acusa de encomendar, de dentro da prisão, a morte de um traficante.
Pavão – Eles vão ter de apresentar provas. Vão ter de apresentar escutas (telefônicas). Eles falam que aleguei que um avião (carregado com droga) é meu. Jamais vou fazer um negócio desses. Quem vai ligar e falar: “Oh, esse avião é meu”. Para e analisa um pouquinho se tem sentido um negócio desses.
ÉPOCA – O filho do senhor foi preso em 2007 por tráfico de cocaína no Paraguai. Isso também é perseguição da polícia?
Pavão – Exatamente. Eu acredito que a Polícia Federal tenha influência sobre isso.
ÉPOCA – Mas não foi a polícia paraguaia que o prendeu?
Pavão – Eles (policiais paraguaios) trabalham em conjunto (com a PF). Tentaram dizer que eu estava no local (onde havia droga), sendo que eu não estava. A Polícia Federal tinha algum trabalho de inteligência, alguma coisa para a região, porque é uma região ampla. O Paraguai todo é território... Acho que não tem um departamento (o equivalente a estado no Brasil) que não seja território do tráfico, com plantações de maconha, etc e tal.
ÉPOCA – Qual é exatamente o negócio do senhor hoje ?
Pavão - Hoje tenho algumas empresas que prefiro não citar nomes, porque é uma perseguição muito grande. Embora seja tudo lícito, tudo declarado, é difícil. Começou a perseguição pro lado de cá. Quando saiu minha (prisão) preventiva lá (em Balneário Camboriú), vim para o Paraguai.
ÉPOCA – Para Pedro Juan Caballero?
Pavão - Sim, Pedro Juan. Quando eu entrei aqui, começou a Operação Aliança (da Polícia Federal juntamente com a polícia paraguaia) para prender os foragidos do Brasil que estavam no Paraguai e ir atrás de plantação de maconha etc. Logicamente eu tinha que me esconder. Fui procurado certo dia por um agente da Polícia Federal para me oferecer informações (sobre operações policiais) em troca de benefício (propina).
ÉPOCA – O policial continua em atividade?
Pavão - Logo depois foi excluído (da polícia). O cara me ofereceu informações usando o nome de um delegado. Eu paguei informação, mas não cessou a perseguição. Cheguei a pagar, seis, sete meses no ano de 2003.
ÉPOCA –Quanto custavam as informações?
Pavão - O primeiro dinheiro que dei foram US$ 20 mil. E depois eram US$ 5 mil a mensalidade. Fui procurado por um agente da PF para me oferecer informações em troca de benefício. Paguei o mensalão do Pavão. A perseguição não cessou "
ÉPOCA – O senhor pagava um mensalão?
Pavão - Era um mensalão do Pavão. Mas aí o que aconteceu? A perseguição não cessou. Aumentou. Eu pensava que pagava um delegado, mas depois cheguei a entender que era mentira do agente. Por quê? Porque as coisas pioraram quando eu comecei a pagar. Eu pagava o agente sem-vergonha e não tinha nada de delegado. E as coisas continuaram piores para mim. Aí eu parei de pagar.
ÉPOCA –Sua prisão aqui no Paraguai se deve também ao porte ilegal de armas.
Pavão - Aí o que aconteceu? O Capillo, o Carlos Antônio Caballero (paraguaio acusado de narcotráfico, um dos novos barões da droga), foi preso comigo.
ÉPOCA – Vocês eram amigos?
Pavão - Eu não conhecia o Capillo. Aí uma pessoa chegou e falou para mim: “o Capillo tá na região e queria falar com você”. Ainda perguntei: “o que o Capillo quer comigo”? Nós marcamos num lugar. Entrei num quarto para dormir. Fechei a porta. Ele chegou muito tarde. Meu secretário o recebeu e foram dormir no outro quarto. Às 5h, a polícia entrou e achou um monte de armas(três fuzis, duas escopetas e quatro pistolas) lá, que não pertencem a mim
ÉPOCA – O senhor acusa a polícia de plantar armas na casa?
Pavão - Eu não posso dizer que plantaram, mas também não posso dizer de quem (as armas)são. Só que minhas não eram.
ÉPOCA – O que Capillo queria com o senhor?
Pavão -São coisas insignificantes. O que ele queria era só dinheiro emprestado. Eu não tinha para emprestar (risos).
ÉPOCA – O senhor diz que não lida mais com drogas. O que deve ser feito para acabar com o tráfico?
Pavão - Sinceridade? Analiso muito. Penso muito. Nunca vai acabar. Podem prender dez Fernandinho (Beira-Mar). Dez não sei quem. Dez Pavão. Não adianta.
ÉPOCA – Por que o senhor acha isso?
Pavão - Não adianta. Não vai acabar (risos).
ÉPOCA – O problema do tráfico está no consumo?
Pavão - Pode ser que o problema esteja no consumo e no lucro fácil (para o traficante). Se você parar para analisar bem, e se aprofundar bem, isso é de interesse meio mundial. Eu acho que deveriam fazer um teste (de liberação) do comércio da maconha, que é uma droga mais fraca. Eu fui usuário. Usei droga sete anos.
ÉPOCA – Qual?
Pavão - Cocaína. No dia 10 de outubro de 1991, eu tive a última overdose. Tive três overdoses e parei. Graças a Deus! Sei o que é o efeito da cocaína.
Pavão, atrás das grades na penitenciária de Tacumbu. Lá, ele é tratado como celebridade por pagar advogados e comida para outros detentos (Foto: divulgação)
Conhecida como “cemitério dos vivos”, a penitenciária de Tacumbu, em Assunção, capital do Paraguai, foi construída para abrigar no máximo 1.200 presos, mas confina 3.300. Os muros com mais de 5 metros de altura intimidam. As instalações do presídio e os corpos esquálidos dos detentos lembram um campo de concentração. Não há celas, camas nem refeição para todos. Dezenas acampam no pátio em barracas improvisadas com cobertores. Comer, em muitos casos, só quando os parentes levam algo. ÉPOCA entrou em Tacumbu para entrevistar o brasileiro Jarvis Chimenez Pavão, de 43 anos. Na tarde do sábado 17 de setembro, o advogado João Manoel Armoa, defensor de Pavão, caminhou calmamente até o portão principal sob uma chuva fraca. Dois minutos depois, acenou para equipe de ÉPOCA se aproximar. Após cruzar um pequeno pátio e subir alguns lances de escada em caracol, a reportagem encontrou Pavão. Ele almoçava com a família e pediu um tempo para terminar a refeição. Logo depois, sentado atrás da mesa de uma das salas administrativas de Tacumbu, mandou servir refrigerantes aos visitantes. Contou que paga advogados e distribui alimentos aos presos menos favorecidos. Guardas da prisão e detentos dão a impressão de respeitá-lo como celebridade. Nascido em Mato Grosso do Sul, ele fugiu para o Paraguai há 11 anos, ao ter a prisão decretada no Brasil. Só foi capturado em dezembro de 2009. Eis o que ele falou:
ÉPOCA – Segundo a Polícia Federal, o senhor continua envolvido com o tráfico.
Jarvis Chimenez Pavão – Não é verdade. Pendurei as chuteiras no fim de 1999. É perseguição. Por quê? Porque sou sincero. Nunca neguei que fui traficante. Eles (policiais) não conseguiam me pegar. Se eu for condenado pelas coisas que devo, tranquilo. Agora, o que não quero é ser condenado por aquilo que não devo. Aquilo (as acusações de que mantém ligação com o tráfico)está claramente montado por um órgão como a Polícia Federal. Quando eu estava em Balneário) Camboriú (SC), já era perseguido pela Polícia Federal de Itajaí (SC), que comanda a região. Esse foi realmente o reduto que dominei mesmo, que trafiquei, que ganhei dinheiro, entendeu?
ÉPOCA – Quanto o senhor ganhou?
Pavão – Isso aí são coisas que a gente não comenta
ÉPOCA – A PF também o acusa de encomendar, de dentro da prisão, a morte de um traficante.
Pavão – Eles vão ter de apresentar provas. Vão ter de apresentar escutas (telefônicas). Eles falam que aleguei que um avião (carregado com droga) é meu. Jamais vou fazer um negócio desses. Quem vai ligar e falar: “Oh, esse avião é meu”. Para e analisa um pouquinho se tem sentido um negócio desses.
ÉPOCA – O filho do senhor foi preso em 2007 por tráfico de cocaína no Paraguai. Isso também é perseguição da polícia?
Pavão – Exatamente. Eu acredito que a Polícia Federal tenha influência sobre isso.
ÉPOCA – Mas não foi a polícia paraguaia que o prendeu?
Pavão – Eles (policiais paraguaios) trabalham em conjunto (com a PF). Tentaram dizer que eu estava no local (onde havia droga), sendo que eu não estava. A Polícia Federal tinha algum trabalho de inteligência, alguma coisa para a região, porque é uma região ampla. O Paraguai todo é território... Acho que não tem um departamento (o equivalente a estado no Brasil) que não seja território do tráfico, com plantações de maconha, etc e tal.
ÉPOCA – Qual é exatamente o negócio do senhor hoje ?
Pavão - Hoje tenho algumas empresas que prefiro não citar nomes, porque é uma perseguição muito grande. Embora seja tudo lícito, tudo declarado, é difícil. Começou a perseguição pro lado de cá. Quando saiu minha (prisão) preventiva lá (em Balneário Camboriú), vim para o Paraguai.
ÉPOCA – Para Pedro Juan Caballero?
Pavão - Sim, Pedro Juan. Quando eu entrei aqui, começou a Operação Aliança (da Polícia Federal juntamente com a polícia paraguaia) para prender os foragidos do Brasil que estavam no Paraguai e ir atrás de plantação de maconha etc. Logicamente eu tinha que me esconder. Fui procurado certo dia por um agente da Polícia Federal para me oferecer informações (sobre operações policiais) em troca de benefício (propina).
ÉPOCA – O policial continua em atividade?
Pavão - Logo depois foi excluído (da polícia). O cara me ofereceu informações usando o nome de um delegado. Eu paguei informação, mas não cessou a perseguição. Cheguei a pagar, seis, sete meses no ano de 2003.
ÉPOCA –Quanto custavam as informações?
Pavão - O primeiro dinheiro que dei foram US$ 20 mil. E depois eram US$ 5 mil a mensalidade. Fui procurado por um agente da PF para me oferecer informações em troca de benefício. Paguei o mensalão do Pavão. A perseguição não cessou "
ÉPOCA – O senhor pagava um mensalão?
Pavão - Era um mensalão do Pavão. Mas aí o que aconteceu? A perseguição não cessou. Aumentou. Eu pensava que pagava um delegado, mas depois cheguei a entender que era mentira do agente. Por quê? Porque as coisas pioraram quando eu comecei a pagar. Eu pagava o agente sem-vergonha e não tinha nada de delegado. E as coisas continuaram piores para mim. Aí eu parei de pagar.
ÉPOCA –Sua prisão aqui no Paraguai se deve também ao porte ilegal de armas.
Pavão - Aí o que aconteceu? O Capillo, o Carlos Antônio Caballero (paraguaio acusado de narcotráfico, um dos novos barões da droga), foi preso comigo.
ÉPOCA – Vocês eram amigos?
Pavão - Eu não conhecia o Capillo. Aí uma pessoa chegou e falou para mim: “o Capillo tá na região e queria falar com você”. Ainda perguntei: “o que o Capillo quer comigo”? Nós marcamos num lugar. Entrei num quarto para dormir. Fechei a porta. Ele chegou muito tarde. Meu secretário o recebeu e foram dormir no outro quarto. Às 5h, a polícia entrou e achou um monte de armas(três fuzis, duas escopetas e quatro pistolas) lá, que não pertencem a mim
ÉPOCA – O senhor acusa a polícia de plantar armas na casa?
Pavão - Eu não posso dizer que plantaram, mas também não posso dizer de quem (as armas)são. Só que minhas não eram.
ÉPOCA – O que Capillo queria com o senhor?
Pavão -São coisas insignificantes. O que ele queria era só dinheiro emprestado. Eu não tinha para emprestar (risos).
ÉPOCA – O senhor diz que não lida mais com drogas. O que deve ser feito para acabar com o tráfico?
Pavão - Sinceridade? Analiso muito. Penso muito. Nunca vai acabar. Podem prender dez Fernandinho (Beira-Mar). Dez não sei quem. Dez Pavão. Não adianta.
ÉPOCA – Por que o senhor acha isso?
Pavão - Não adianta. Não vai acabar (risos).
ÉPOCA – O problema do tráfico está no consumo?
Pavão - Pode ser que o problema esteja no consumo e no lucro fácil (para o traficante). Se você parar para analisar bem, e se aprofundar bem, isso é de interesse meio mundial. Eu acho que deveriam fazer um teste (de liberação) do comércio da maconha, que é uma droga mais fraca. Eu fui usuário. Usei droga sete anos.
ÉPOCA – Qual?
Pavão - Cocaína. No dia 10 de outubro de 1991, eu tive a última overdose. Tive três overdoses e parei. Graças a Deus! Sei o que é o efeito da cocaína.
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