sexta-feira, 19 de junho de 2015

DIRETO DA PASC, COMANDO DE TRÁFICO E MORTES



ZERO HORA 19 de junho de 2015 | N° 18199


JOSÉ LUIS COSTA

DENTRO DAS PASC E DO CRIME



BANDIDO CONDENADO A QUASE 84 ANOS de detenção comanda uma quadrilha de traficantes e determina execuções mesmo cumprindo pena no Presídio de Alta Segurança de Charqueadas

Apesar de equipada com um detector de metais que custou R$ 500 mil e que deveria zerar o ingresso de objetos ilícitos, a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) não se livra da pecha de escritório do crime. Investigação iniciada em março sobre tráfico de drogas na Serra, conduzida pelo delegado Gustavo Barcellos, da Delegacia da Polícia Civil de Gramado, revela que o assaltante Ivan Richetti, o Carreta, 38 anos, recolhido no pavilhão A da Pasc, passa parte do dia comandando crimes por meio do celular.

Condenado a quase 84 anos por roubo a residências e motoristas, Richetti enveredou para o tráfico e determina por telefone movimentos de sua quadrilha, que, segundo a polícia, tem base em Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana, e ramificações na Região das Hortênsias. São milhares de interceptações autorizadas pela Justiça, nas quais ele foi identificado após a prisão de 10 suspeitos de tráfico e apreensão de 18 quilos de maconha e um quilo de cocaína.

Em uma das conversas, ele admite, sem rodeios e com orgulho, que “assalta, mata e trafica de dentro da cadeia e não vem bronca nenhuma”. Sem meias palavras, é explícito ao mandar um de seus distribuidores da Serra vender 20 quilos de maconha e ordenar o extermínio de concorrentes. As escutas também apontam que Richetti estaria planejando um atentado contra policiais civis. Revoltado com uma apreensão de drogas, em Gramado, o apenado fala em metralhar com “uns 200 tiros” a delegacia.

– Estamos mais atentos. Adotamos medidas de segurança para evitar surpresas – afirma o delegado.

Barcellos afirma que Richetti teria planos de dominar o tráfico na Serra, em especial em Canela. Em uma das conversas, teria dito que “vai dominar a cidade porque é uma mina de dinheiro e só vai sair de lá morto”.

Não é a primeira vez que o criminoso é flagrado em escutas. Em 2012, um diálogo dele com uma mulher dá a entender que usava, inclusive, dois celulares. Procurada por ZH, a Superintendência dos Serviços Penitenciários disse que o detector de metais está funcionando na Pasc e que desconhece as escutas. Informou, ainda, que Richetti foi punido “conforme as sanções administrativas da penitenciária” por uso de celulares em 2012 e 2013. Segundo a Vara de Execuções Criminais da Capital, no entanto, ele apenas foi isolado preventivamente por 10 dias por usar celular em julho de 2012, mas não houve punição porque a Pasc não concluiu o procedimento administrativo em tempo hábil.




CASO TERÉU. Nove foram denunciados por morte de traficante

Nove presos foram denunciados ontem pela morte do traficante Cristiano da Fonseca, o Teréu, em um refeitório da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (PASC). A denúncia foi por homicídio triplamente qualificado, com qualificadoras de motivo torpe, meio cruel e recurso que dificultou defesa. Além da denúncia, o Ministério Público pediu para que a Justiça determine realização de diligências para investigar a conduta de agentes penitenciários que foram indiciados. A morte de Teréu, no dia 7 de maio, levou 10 minutos. Ele foi asfixiado com uma sacola plástica por detentos.

LUCAS ABATI

A ATUAÇÃO DE CADA UM
Ubirajara Barbosa: cuidou a movimentação da guarda e fez o sinal para que o crime fosse executado.
Paulo da Silva: repassou o sinal, dando início à ação. Colocou a segunda sacola na cabeça de Teréu.
Luciano Pereira: derrubou a vítima e a imobilizou, com mais dois presos. Colocou a primeira sacola.
Rudinei Abreu e Rudinei da Silva: agiram no estrangulamento.
Fernando Araújo: evitou que apenados deixassem o local.
Daniel Lopes: auxiliou ao dificultar a respiração, pisando sobre o corpo.
Paulo Moraes: cuidou da movimentação da guarda.
Erick Brum Paz: ajudou a limpar o corpo e o chão. Retirou as sacolas da cabeça do traficante e as eliminou.
Agente penitenciário 1 (não teve o nome divulgado): era a responsável pelo monitoramento e, ao negligenciar o trabalho e não avistar o que estava acontecendo no refeitório, não avisou os demais guardas.
Agente penitenciário 2 (não teve o nome divulgado): entrou no setor e, ao chamar a atenção e conversar com a agente que realizava o serviço, a distraiu.

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