JORNAL DO COMÉRCIO 22/05/2015
Luiz Fernando Oderich
Narrarei três episódios reais. A câmara de segurança mostra claramente o menino implorando: "Mas o que foi que eu fiz?". Implacável, o assassino não dá bola e o estrangula com firmeza até a morte. Pausa. Respire fundo. Nossa Senhora - que coisa horrível! Agora imagine algo ainda pior. E se fosse seu filho, seu neto, o afilhado da vizinha, alguém que você conhecia e amava desde pequeno? Duro, não? Nova pausa. Filtre suas emoções. Sua dor, seu medo, sua frustração, seu ódio e responda com sinceridade. O fato de o criminoso ser maior ou menor de idade faria alguma diferença? Ser menor não é apenas um pormenor?
Na FASE, conversando com delinquentes juvenis, pergunto: "Tu te arrependes de ter matado? Não, mas, na próxima vez, antes, eu vou 'acarcar' mais". Não tive coragem de esclarecer melhor o que significava "acarcar". Alexandre está falido. Desde que seu filho foi vítima de assalto e foi baleado na espinha, vive dividido entre conseguir trabalhar e prestar-lhe os cuidados especiais que seu caso requer. Não há um centavo de dinheiro público para auxiliá-lo. Se tivesse contribuído apenas um mês para a previdência e depois cometido um crime, sua vida seria bem melhor. Teria ajuda financeira, psicológica, médica e jurídica. Alexandre faliu, mas não é criminoso, é vítima, portanto, tem de se virar sozinho.
Hoje é Dia do Detento. A sociedade brasileira, graças ao ex-senador Eduardo Suplicy, presta, nesta data, uma justa homenagem à nobre classe dos criminosos. Nem precisa procurar - o Dia das Vítimas não existe.
De posse de todos esses exemplos, você continua achando que quem quer mudar as leis penais são pessoas "da extrema direita raivosa, saudosos da ditadura militar" ou um monte de pessoas comuns, atrás de uma coisa bem simples - Justiça?
Presidente da ONG Brasil Sem Grades
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