quarta-feira, 1 de julho de 2015

REALIDADE DE UM GOVERNO EQUIVOCADO

PORTAL SINDASP.ORG 19/09/2014
http://www.sindasp.org.br/Pagina.aspx?IdNoticia=3913



A próxima vítima: quem, quando, onde e por quê?



ROZALVO JOSÉ DA SILVA (*)





Dia 09 de setembro de 2014, período da manhã, Penitenciária de Valparaiso, interior de São Paulo. O Agente de Segurança Penitenciária (ASP), Paulo de Tarso, ao realizar revistas em busca de ilícitos, tem suas vísceras expostas pela explosão de pólvora que se encontrava escondida no interior da trave do gol na quadra de recreação da Unidade. É internado em estado grave.

Na mesma data, por volta das 6h, o ASP Agnaldo Barbosa Lima caminhava em direção ao Centro de Detenção Provisória (CDP) II de Osasco. Sua Unidade de trabalho. Estava em companhia de outro ASP e falava ao telefone com a esposa que mora no interior. Foi alvejado por vários tiros. Faleceu no local. Uma execução sumária. O ASP que o acompanhava escapou ao fugir da emboscada.

Na noite anterior, o Diretor de Plantão do turno noturno do CDP I de Osasco, ao verificar uma ocorrência em uma das celas da Unidade foi atingido por água quente, jogada através do guichê da cela por um preso. Na semana que antecedeu aos fatos acima ocorreram agressões em várias Unidades, totalizando seis em uma semana.

Dia 21/08/2014, ao chegar em casa, o Diretor de Segurança e Disciplina do CDP de Praia Grande, segundo na hierarquia da Unidade, Charles Demitre Teixeira foi FUZILADO. Isso mesmo. Foi atingido por mais de 60 tiros sendo que desses, mais da metade foram tiros de fuzil. Um ATENTADO TERRORISTA. Este atentado foi o terceiro na mesma cidade, com servidores da mesma Unidade, já que no dia 15/08/2014, mais dois Agentes foram assassinados, porém em local e horário diferentes.



São muitos os casos de agressão no interior das Unidades, apenas este ano. Sem contar que alguns casos são “abafados” por autoridades que buscam “esconder” as “fraquezas” do sistema ou pela própria vítima que, envergonhada com a “humilhação”, prefere não tornar público.

Os fatos acima configuram apenas uma síntese dos acontecimentos recentes que expõe a gravidade e fragilidade das condições a qual os Agentes de Segurança Penitenciária e policiais civis e militares estão expostos ao exercerem suas atividades, demonstram o quão incompetentes são as autoridades que governam este Estado há longos 20 anos e que, por sua irresponsabilidade, transformaram o Estado em “terra arrasada”.

Pior. Esse descalabro não é inédito. O articulista JR Guzzo publicou em 30/01/2013, na Revista Veja, páginas 72-73, o Artigo: NAMORANDO COM O SUICÍDIO, onde demonstra a gravidade da ação do crime organizado contra as forças policiais. De tão relevante, recomendamos a leitura integral do artigo.

Guzzo começa dizendo que: “Se nada piorar neste ano de 2013 cerca de 250 policiais serão assassinados no Brasil até o dia 31 de dezembro. É uma história de horror, sem paralelo em nenhum país civilizado. Mas estes foram os números de 2012[...]”.

Não tenho o número de mortes de policiais no ano de 2013 e nem as desse ano, até o momento. Porém, certamente, por mais que tenha ocorrido alguma redução, os números serão alarmantes, principalmente se comparados aos ocorridos na França que segundo o Articulista, em 40 anos, foram 620 policiais assassinados por marginais.

Diz Guzzo que São Paulo, “com 20% da população nacional tem 50% dos crimes cometidos nessa guerra”, e que, “mais de 100 policiais paulistas foram assassinados em 2012”. Apesar dessa barbárie, segundo o autor “o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, conseguiu o prodígio de não comparecer ao enterro de um único dos cento e tantos Agentes de sua polícia assassinados ao longo de 2012. A atitude seria considerada monstruosa em qualquer país sério do mundo. Aqui ninguém percebe o que o homem fez, a começar por ele próprio.”

Os equívocos e a falta de uma política voltada ao combate efetivo do crime organizado saltam os olhos quando observamos o histórico das facções criminosas no Estado. Todos sabem – ou deveriam saber – que o Crime Organizado “nasceu” no ano de 1993 em uma única Unidade (Penitenciária de Taubaté) na figura da Facção criminosa PCC, Primeiro Comando da Capital.

Esta facção que, hoje, domina o crime dentro e fora do sistema prisional no Estado de São Paulo e em quase todo o Brasil, depois de inúmeras demonstrações de força, orquestrando rebeliões nas Unidades Prisionais paulistas, algumas de forma sincronizadas, no ano de 2006 extrapolou os muros das prisões e colocou a população paulista de joelhos com um ataque terrorista que, além da destruição do patrimônio público e privado em valores incalculáveis, ceifou muitas vidas de agentes do Estado e civis, apavorando, por vários dias, todo povo.

Segundo entrevista concedida ao Observatório de Imprensa, em 12 de janeiro de 2007, a Jornalista Fátima Souza, que foi a primeira repórter a falar no PCC, em 1997, quando era da TV Bandeirantes, faz severas críticas ao velho conluio da mídia com as autoridades e a maneira que o governo, na época buscou “maquiar” a existência de uma força criminosa que, hoje, não tem mais como esconder.

Diz a repórter “Eu fiz uma matéria robusta, de oito minutos, e a gente colocou no ar na Band. Pela primeira vez a palavra PCC apareceu no cenário. O governo negou, obviamente. O secretário da administração penitenciária, Benedicto Marques, chegou a dar uma entrevista na Jovem Pan dizendo que eu estava inventando notícia para ter ibope, que o que eu tinha falado era uma ficção e não uma facção. Isso me deixou muito brava. Os próprios colegas do mercado tiraram o maior barato da minha cara: ‘E aí, cadê o PCC, tá inventando notícia agora? ’”

A repórter diz que o próprio governador Mário Covas (PSDB), desmentiu, ao vivo, no programa do Zé Paulo de Andrade, na Rádio Bandeirantes, a existência da Facção. “O Zé Paulo mandou ligar no meu celular e a gente fez uma conversa a três no ar e o Mario Covas foi gentil, dizendo que eu era uma grande repórter, que ele gostava muito das minhas matérias, mas que, no caso, alguém me teria levado ao engano. Não foi tão grosso como o Secretário, mas ele disse: “Alguém te levou ao engano. Essa facção não existe. Eu já falei com o meu secretário, com diretores de cadeia, então a população pode ficar sossegada que isso é uma invenção”.

A repórter conclui “Eu me lembro de ter dito: “Governador, o tempo vai dizer. Eu acharia mais sensato o senhor ir atrás dessa história e acabar com ela enquanto é pequena do que fingir que não existe”. Ficou até um bate-boca entre mim e o Covas lá na rádio, mas eu tinha certeza do que estava falando.

Guzzo, em seu texto, expõe que: “Raramente, hoje em dia, os barões que mandam nos nossos governos, mais as estrelas do mundo intelectual, os meios de comunicação e a sociedade em geral se incomodam em pensar no tamanho desse desastre. Deveriam, todos, estar fazendo justo o contrário, pois o desastre chegou a um extremo incompreensível para qualquer país que não queira ser classificado como selvagem. [...] O que mais seria preciso para admitir que estamos vivendo no meio de uma completa aberração?” Questiona.

De todo exposto, fica evidente que o governo PSDB, nesses 20 anos, ao invés de combater o crime, irresponsavelmente, de desmentido em desmentido, favoreceu o fortalecimento e o poder criminoso no Estado e, por consequência, em todo Brasil. Nesse momento eleitoral, cabe à sociedade paulista escolher pela continuidade desta “governança” ou escolher outro caminho, mesmo que depois, nada venha a mudar.

Busco, com este texto, fazer um pedido de socorro à sociedade. Os Agentes de Segurança Penitenciária, como os policiais civis, militares e guardas municipais, são as forças de segurança cujo papel é proteger a sociedade do poder criminoso, mas, por conta de uma política equivocada, perpetrada por este governo, somos, hoje, o alvo do crime. O título demonstra isso. A Categoria se pergunta: quem será a próxima vítima, quando e onde ocorrerá o próximo ataque, mas o texto responde POR QUE ISSO ESTÁ OCORRENDO.

Finalizo dizendo a você, que teve a paciência de ler este texto até aqui, que a democracia pressupõe alternância no poder, justamente para que “ditaduras” e incompetências não criem tragédias como as acima expostas e, como cidadão, servidor do sistema prisional e eleitor CLAMO a toda sociedade paulista a EXTIRPAR o PSDB do estado, sob pena de ser CUMPLICE DESSA BARBARIE E COOPERAR PARA A ABERRAÇÃO a que Guzzo se refere.



(*) O autor é Agente de Segurança Penitenciária desde 1994, estudante de Direito e Diretor Jurídico do SINDASP – Sindicato dos Agentes de Segurança Penitenciária do Estado de São Paulo.

(O texto foi publicado a pedido do diretor Rozalvo José da Silva e com a aprovação de outros membros da Diretoria Executiva)

Nenhum comentário: