Juiz gaúcho registra em fotos rotina de um dos piores presídios do país
A imagem lembra um navio negreiro, com centenas de homens presos sentados lado a lado, sem espaço para se movimentarem.
A superlotação é rotina no Presídio Central de Porto Alegre, considerado um dos piores do país. São 4.700 detentos para 1.800 vagas.
A cena é uma das mais de 10 mil registradas pelo juiz Sidinei Brzuska, 48, da Vara de Execuções Criminais (VEC) da capital gaúcha.
Algumas das imagens que denunciam o abandono do presídio fazem parte da exposição organizada pela Ajuris (Associação de Juízes do Rio Grande do Sul), que aconteceu no mês passado no Fórum central porto-alegrense.
FOTO DE FAMÍLIA
Brzuska começou a fotografar em 1998, no presídio de Santa Rosa (a 484 km de Porto Alegre). Ele reparou que os detentos não tinham registros fotográficos com suas famílias, que apareciam em dias de visita. Os filhos de presidiários, diz, não têm fotos com seus pais. Ele os fotografava e revelava as imagens para entregar de presente.
"Os presos, então, começaram a colocar essas fotos na parede, arrancando os pôsteres de mulher pelada. Deu até um aspecto mais de casa, mais respeitoso e sadio."
Anos mais tarde, em Santa Maria (a 283 km da capital gaúcha), continuou fotografando, mas por outro motivo: o número de presos era muito maior e queria lembrar de cada um ao ler os processos.
Nessa época, suas fotos ajudaram na construção de um novo presídio. Brzuska pressionou o Estado mostrando a precariedade do local.
Entre os motivos para a exposição de fotos está a ideia de deixar registros para o futuro –as fotos são impressas em papel resistente–, e mostrar que a lógica de que "quanto pior, melhor" gera reincidência e fortalece as facções criminosas.
"O Brasil tem pouco mais de 500 anos. Desse período, quase 400 anos conviveu com a escravidão, achando que era normal surrar e vender pessoas. É um país muito jovem. Então, as pessoas acham normal essa realidade do presídio", diz o juiz.
LIVRE ACESSO
O juiz fotografa o Central de locais aos quais nem sequer os agentes penitenciários ou os policias militares, responsáveis pela segurança do local, conseguem acesso.
"Existe um acordo, onde os presos respeitam as áreas da Brigada Militar [a PM gaúcha], e ela não entra nos lugares controlados pelos presos."
Isso significa que não há presença do Estado nas galerias. "O Estado administra em consórcio com a facção. É mais barato", critica.
O título de uma das piores prisões do país se justifica pela superlotação e as péssimas condições estruturais, onde "canos" feitos de garrafa plástica servem para escoar urina e fezes de detentos.
O juiz trabalha há 20 anos na área, desde 2008 no Central. Por "circular nos dois lados das grades", diz ter uma visão sistêmica.
No Central, apenas 10% dos presos trabalham em funções administrativas como limpeza e cozinha. Nenhum dos 4.700 tem curso profissionalizante custeado pelo Estado. "Em que espaço [seriam os cursos]? Não dá nem para caminhar no corredor da galeria".
A superlotação é rotina no Presídio Central de Porto Alegre, considerado um dos piores do país. São 4.700 detentos para 1.800 vagas.
A cena é uma das mais de 10 mil registradas pelo juiz Sidinei Brzuska, 48, da Vara de Execuções Criminais (VEC) da capital gaúcha.
Algumas das imagens que denunciam o abandono do presídio fazem parte da exposição organizada pela Ajuris (Associação de Juízes do Rio Grande do Sul), que aconteceu no mês passado no Fórum central porto-alegrense.
FOTO DE FAMÍLIA
Brzuska começou a fotografar em 1998, no presídio de Santa Rosa (a 484 km de Porto Alegre). Ele reparou que os detentos não tinham registros fotográficos com suas famílias, que apareciam em dias de visita. Os filhos de presidiários, diz, não têm fotos com seus pais. Ele os fotografava e revelava as imagens para entregar de presente.
"Os presos, então, começaram a colocar essas fotos na parede, arrancando os pôsteres de mulher pelada. Deu até um aspecto mais de casa, mais respeitoso e sadio."
Anos mais tarde, em Santa Maria (a 283 km da capital gaúcha), continuou fotografando, mas por outro motivo: o número de presos era muito maior e queria lembrar de cada um ao ler os processos.
CRISE NOS PRESÍDIOS |
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Entre os motivos para a exposição de fotos está a ideia de deixar registros para o futuro –as fotos são impressas em papel resistente–, e mostrar que a lógica de que "quanto pior, melhor" gera reincidência e fortalece as facções criminosas.
"O Brasil tem pouco mais de 500 anos. Desse período, quase 400 anos conviveu com a escravidão, achando que era normal surrar e vender pessoas. É um país muito jovem. Então, as pessoas acham normal essa realidade do presídio", diz o juiz.
LIVRE ACESSO
O juiz fotografa o Central de locais aos quais nem sequer os agentes penitenciários ou os policias militares, responsáveis pela segurança do local, conseguem acesso.
"Existe um acordo, onde os presos respeitam as áreas da Brigada Militar [a PM gaúcha], e ela não entra nos lugares controlados pelos presos."
Isso significa que não há presença do Estado nas galerias. "O Estado administra em consórcio com a facção. É mais barato", critica.
O título de uma das piores prisões do país se justifica pela superlotação e as péssimas condições estruturais, onde "canos" feitos de garrafa plástica servem para escoar urina e fezes de detentos.
O juiz trabalha há 20 anos na área, desde 2008 no Central. Por "circular nos dois lados das grades", diz ter uma visão sistêmica.
No Central, apenas 10% dos presos trabalham em funções administrativas como limpeza e cozinha. Nenhum dos 4.700 tem curso profissionalizante custeado pelo Estado. "Em que espaço [seriam os cursos]? Não dá nem para caminhar no corredor da galeria".
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